domingo, 27 de julho de 2025

Mudam-se os tempos, mudam-se os comportamentos

Sem surpresa, ouvi e li nas notícias da semana passada, o caso de um aluno universitário, um adulto de quarenta anos, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que agrediu uma professora que o apanhou a copiar num exame. Esse indivíduo tentou agredir outra professora, também vigilante do mesmo exame, e mordeu um colega que tentou proteger a primeira vítima. A violência terá ocorrido perto do final da prova, quando o agressor regressou à sala, de que havia saído quando apanhado.

Estes factos, em si, são chocantes, mas não imprevisíveis, se se tiverem em conta as atitudes e os comportamentos que se tornaram vulgares no ensino básico e secundário. Copiar, à vista dos professores, e após o aviso destes, é comum, muitos pais convivem bem com isso, e para os professores que não aceitam essa realidade, o ambiente pode tornar-se hostil. São factos.

Ora, se crianças e jovens são “reis” de actos e procedimentos inaceitáveis, como esperar que, quando adultos, possam respeitar os limites necessários?

Não admira que a profissão de professor não seja muito desejada. Percebe-se bem porquê.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Educação na Televisão pública em Portugal

«É ou não é?»

…nhééé!...

Por acaso ou não, não foi convidado nenhum professor daqueles que dão aulas todos os dias.

Gostei particularmente das intervenções de Miguel Herdade.

O ministro da pasta também não esteve mal.

Os problemas estão nas escolas e são mais e primeiramente sentidos por quem as frequenta diariamente. A violência de proclamações radicais não ajuda, nem as opiniões "politicamente correctas" adiantam.

José Batista d’Ascenção

domingo, 29 de junho de 2025

Agruras da “correcção" de exames

A prova de biologia e geologia (até) está bem elaborada e não é muito difícil (para alunos bem preparados).

Mais difícil é a aplicação de alguns critérios, particularmente as especificações que vão sendo feitas ao longo do processo.

Submerso num mar de escolhos, quanto mais leio e releio, sejam as respostas dadas sejam as orientações, mais desorientado me sinto. Chegam alturas em que junto as provas num maço e deponho sobre elas um pisa-papéis.

Cansaço, saturação (velhice?), decepção, pasmo perante terríveis lacunas de escrita. De tudo isto, e não apenas, mais do que o desejável.

Mas nem tudo é mau – a inteligência de muitas respostas, mesmo que ao lado do pretendido, mostra que as capacidades da “matéria-prima” estão lá.

O que falha então?

Devíamos pensar sobre isto, se estivéssemos em condições de pensar, e ser consequentes, se fôssemos capazes de o ser.

José Batista d’Ascenção

sábado, 21 de junho de 2025

Fragilidade psicológica de jovens universitários

Notícias de ontem referem o desânimo de muitos alunos universitários, razão por que consomem muitos químicos psicotrópicos. Adiantam-se vários motivos, entre eles, a pandemia. As análises, parece-me, falham num aspecto crucial: a (im)preparação dos alunos do ensino básico e secundário e o ambiente que se vive nas escolas, nestes níveis.

Criancinhas e os alunos mais jovens fazem o que querem nas aulas e fora delas, dependem dos telemóveis para toda a sua actividade bio-psico-social, copiam como se fosse um direito legítimo, e não valorizam as indicações preventivas dos professores - daqueles que ainda as procuram dar.

Chegados às universidades, parece que as suas energias só não faltam para praxes (mais ou menos horrendas, estética e culturalmente), que se prolongam por quase todo o ano lectivo.

Preparação, que é dela? Espírito de sacrifício, onde está? Resiliência à frustração, vê-se em quem?

E depois queixam-se.

José Batista d’Ascenção

domingo, 15 de junho de 2025

O krill antártico

Se se estiver no oceano Antártico e se vir a água avermelhada, ao longo de poucos metros ou estendendo-se por vários quilómetros, fica-se a saber que se está perante dezenas de milhares de animais minúsculos que, provavelmente, atrairão dezenas de outros muito maiores. Trata-se de um pequeno crustáceo parecido com o camarão, cuja carapaça apresenta uma cor vermelho vivo. Como muitas espécies de água fria, cresce lentamente e tem uma vida surpreendentemente longa. Os seus ovos eclodem nas profundezas escuras do oceano Antártico e as larvas nadam durante vários dias até à superfície para se alimentarem de fitoplâncton (plâncton que realiza a fotossíntese). Demoram então três anos até atingirem o tamanho adulto de 5-6 cm de comprimento.

Quando a estação escura começa a instalar-se e o fitoplâncton entra em declínio, por falta de luz, o krill abranda o metabolismo e adapta a dieta, passando a consumir algas que vivem no gelo, detritos do leito marinho e até zooplâncton (plâncton de natureza animal). Mais notavelmente ainda, o krill diminui de tamanho no Inverno (decresce, afinal), operando uma regressão da fisiologia sexual, retrocedendo, de forma efectiva, à sua fase juvenil, com necessidades energéticas mais reduzidas. Esta redução de porte permite-lhe usar a proteína corporal para subsistir durante esses períodos. Com o regresso da Primavera, recupera as suas características sexuais, tornando-se plenamente maduro, a tempo da época de acasalamento.

Pinguins, peixes, focas, e lulas contam com o krill como componente substancial da dieta. No caso das baleias-de-barbas, filtradoras, como a baleia-de-bossa, a baleia-azul e a baleia-sardinheira, o krill compõe uma porção muito grande da sua alimentação. Pode haver 10 000 krill num metro cúbico de água e uma baleia-azul consegue engoli-lo todo de uma só vez. As baleias dependem tanto do krill que se concluiu que as taxas de gravidez das baleias-de-bossa mantêm uma correlação com a disponibilidade de krill na zona.

Os excrementos das baleias são ricos em ferro (proveniente do krill, de que se alimentam), nitrogénio e fósforo e, regra geral, as baleias defecam à superfície ou próximo dela. Os excrementos fertilizam a água e promovem o crescimento do fitoplâncton. O fitoplâncton alimenta o krill. Por consequência, pensa-se que a presença de mais baleias leva, na verdade, à presença de mais krill, não menos.

in: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025. 343-351 p.

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Experiências com a levedura que nos dá o pão, porque gosta (muito) de açúcar

Foto de Leonor Oliveira

Recorrendo a pasta de fermento comercial de padeiro como fonte de levedura Saccharomyces cerevisiae, hoje foi dia de pôr em evidência a fermentação alcoólica que aquele fungo unicelular realiza como via preferencial de obtenção de energia.

Em cada um dos turnos da turma C do 10º Ano de Escolaridade foi usado o seguinte protocolo:

    - Erlenmeyer 1 – 200 ml de água;

    - Erlenmeyer 2 – 200 ml de água + 1 colher de café de pasta de fermento (fonte de S. cerevisiae);

    - Erlenmeyer 3 – 200 ml de água + sacarose (duas saquetas de açúcar de 5-6 gr);

    - Erlenmeyer 4 – 200 ml de água + 1 colher de café de fermento + sacarose (duas saquetas).

Na boca de cada um dos balões Erlenmeyer ajustou-se um balão de látex.

Colocaram-se os quatro balões Erlenmeyer preparados como descrito numa estufa a cerca de 32ºC.

Quarenta e cinco minutos depois o balão de látex do Erlenmeyer 4 estava inflado de gás.

Esse gás correspondia ao CO2 libertado no processo de fermentação.

Os balões dos restantes Erlenmeyer mantiveram-se vazios.

Também se verificou que o conteúdo do Erlenmeyer 4 cheirava a álcool (devido ao etanol produzido).

Os Erlenmeyer 1, 2 e 3 funcionaram como controlo.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 3 de junho de 2025

Branqueamento de corais

Os corais precisam de águas pouco profundas com grande exposição solar e níveis perfeitos de temperatura e pH. Quaisquer alterações destas condições, a longo prazo, impossibilitam a sobrevivência dos recifes de coral.

Um perigo constante para os corais é a possibilidade de aí crescerem algas pluricelulares, que os poderão cobrir e privá-los da luz, que lhes é vital. Felizmente há exércitos de peixes herbívoros que se alimentam das algas e mantêm o recife limpo.

Nos últimos 12 000 anos, durante o período Holoceno, nas águas tropicais transparentes e tépidas, o coral cresceu e formou vastos recifes onde a vida marinha se tornou muito abundante.

Porém, agora, estas águas estão a mudar. Iniciou-se uma era definida pelos humanos – o Antropoceno.

O oceano desempenha um papel vital de moderação do clima global. Actua como uma esponja gigante que absorve dióxido de carbono (CO2) e calor. O oceano absorveu tanto do nosso excessivo CO2, que o valor do pH está a diminuir – está a tornar-se mais ácido. O pH baixo pode dissolver os esqueletos expostos deixando o coral mais vulnerável a partir-se. Na realidade, isto enfraquece a estrutura de todo o recife de coral, que é maioritariamente composta por calcário – o carbonato de cálcio dos velhos esqueletos de coral, o qual pode dissolver-se, degradando a base primordial da referida estrutura.

Para além deste efeito directo, a acidificação do oceano poderá conduzir a uma debilitação da atracção natural do recife, uma vez que o pH baixo enfraquece as conchas dos caracóis marinhos, dos crustáceos e dos bivalves. A comunicação feita pelos sons das conchas a bater e dos estalidos de camarões é afectada. O recife começa a calar-se. Os peixes não são atraídos pelos sons vindos do local onde podem instalar-se e ficam mais vulneráveis aos predadores. Ou seja: gera-se um ciclo de retorno negativo.

O branqueamento dos corais ocorre quando os pólipos são sujeitos a tensões causadas por alterações de temperatura, de pH, de salinidade e de poluição. Os corais toleram uma gama de temperaturas relativamente restrita. Fora desse intervalo, a fotossíntese começa a correr mal e as zooxantelas podem reagir produzindo substâncias nocivas para os pólipos de coral. Estes reagem também e expulsam as zooxantelas. Sem zooxantelas, o tecido do pólipo torna-se translúcido e revela o seu esqueleto branco – foi «branqueado». Quando a temperatura permanece demasiado tempo fora dos valores normais, os pólipos morrem de fome.

Com as alterações climáticas, as vagas de calor oceânicas podem durar semanas ou meses, aquecendo as águas a centenas de metros de profundidade e matando os corais.

Na recuperação de corais «branqueados» os peixes herbívoros podem desempenhar um papel muito importante limitando a proliferação de algas pluricelulares que recobririam os recifes fragilizados.

in:«Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025. 55-64 p.

José Batista d’Ascenção