domingo, 29 de janeiro de 2017

Rochas ou pedras, minerais e fósseis [texto recebido do Professor Galopim de Carvalho, que aqui se publica, com sentido agradecimento]

Rochas

Rochas e pedras são a mesma coisa?
Praticamente, a resposta é sim. Pedra é aquilo que se apanha do chão para dar uma pedrada. Podemos dizer, numa linguagem vulgar, que as pedras são bocados de rocha.
As pedras ou rochas são as entidades naturais construtoras da capa mais externa da Terra, chamada litosfera ou esfera rochosa, uma vez que o elemento grego “lithós” significa pedra. São rígidas, o que quer dizer que não se amolgam nem se dobram, são geralmente coesas, uma vez que são muito poucas as que se esboroam ou esfarelam, e fazem mossa onde quer que batam porque são duras.
Pedra vem do grego “pétra”, através do latim “petra” e é, por assim dizer, um modo mais popular de dizer rocha. A palavra rocha chegou-nos mais tarde, veio do francês “roche”. Dir-se-á que é um galicismo que acabou por substituir o nosso termo “roca”, bem mais antigo, talvez anterior à presença aqui dos romanos e que, entretanto, caiu no esquecimento. Nós ainda falamos de enrocamentos, quando nos referimos às obras de protecção do litoral com grandes blocos de rocha, e dizemos Cabo da Roca, em alusão a rocha.
Apanhamos uma pedra do chão mas, quando estudamos, falamos quase sempre de rochas. Na indústria e no comércio fala-se indistintamente de pedras ou rochas ornamentais, Dizemos rochedo quando um afloramento de pedra é grande e apelidamos de rochoso um terreno pedregoso.

Na sistemática das rochas sedimentares o conceito de rocha é mais alargado, nem sempre coincidente com o de pedra. 
Geradas na interface da litosfera com a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera, nas condições de pressão, temperatura e quimismo próprias da superfície do planeta, as rochas sedimentares são hoje entendidas como o produto da deposição gravítica de um, dois ou três dos seguintes constituintes fundamentais: 

- terrígenos, com proveniência nas terras emersas, resultantes da erosão de outras rochas preexistentes; 
- quimiogénicos, resultantes da precipitação de substâncias dissolvidas nas águas;
- biogénicos ou organogénicos, quer edificados por alguns organismos em vida, como os corais, quer por acumulações dos restos esqueléticos de outros, após a morte, como conchas de moluscos e outros.

Nesta base, a maioria dos autores inclui nas rochas sedimentares, não só os materiais coesos, isto é, litificados ou petrificados, com o aspecto que todos associamos à palavra rocha, sinónimo de pedra, como também as acumulações dos seus constituintes não consolidados e, portanto, incoesos, remobilizáveis ou móveis, como são as cascalheiras, as areias ou as argilas. 
Assim, em geologia sedimentar fala-se de rochas consolidadas ou coesas e de rochas móveis ou incoesas

Para alguns autores há, ainda, as rochas residuais, entendidas como geradas no próprio local onde os respectivos componentes se formaram por meteorização, isto é, por alteração pelos agentes atmosféricos, e que, portanto, não sofreram qualquer transporte. São os alteritos ou rególitos e neles se incluem os saibros ou arenas. São, ainda, os barros, a terra rossa, os lateritos e os bauxitos.
Em geologia de engenharia fala-se de bedrock, termo internacionalizado para designar a rocha coesa não meteorizada (sã), subjacente a depósitos aluviais ou outros, bem como à capa de meteorização, havendo quem lhe chame rocha de fundo.

Noção de mineral

É preciso saber que a palavra mineral deriva de mina que, para nós, tanto é uma escavação que se faz numa encosta, a fim de fazer sair a água que circula dentro dela, como outra que se faça em profundidade, em qualquer local do terreno, para explorar certos produtos que, precisamente, por serem extraídos de minas, foram designados por minerais.
A definição, hoje aceite por quem os estuda, diz, simplesmente, que mineral é todo o elemento ou composto químico, geralmente cristalino, gerado por um processo geológico. 
Entre os minerais formados por um só elemento químico, lembremos o diamante e a grafite, ambos formados por carbono, o mesmo elemento de que é feito carvão; lembremos o ouro, a prata, o cobre e o enxofre.
Através dos seus minerais e de alguns dos seus atributos, com o seja o tamanho dos grãos, as rochas permitem-nos conhecer as causas que lhes deram origem, o ambiente químico e as condições de pressão e de temperatura em que foram geradas ou transformadas. Muitas delas revelam-nos, ainda, a data do seu nascimento.

As pedras e a vida das pessoas

As pedras ou as rochas ocuparam, desde sempre, um espaço importante na vida das pessoas. Os nossos antepassados da chamada Idade da Pedra encontraram abrigo e segurança nas grutas e cavernas abertas nas rochas. Foi com uma pedra chamada sílex que fizeram os primeiros utensílios e as primeiras armas
Foi com rochas que se fortificaram os primeiros povoados e se ergueram castelos e palácios ao longo da História. Estão nas estátuas dos nossos heróis, nas calçadas e pavimentos que pisamos. 
Dão-nos o ferro, o cimento, a brita e a areia do betão. Dão-nos a cal que faz a brancura do casario alentejano e algarvio.
São matéria-prima de todos os metais com que se constroem navios, comboios, aviões, automóveis e naves espaciais e estão na base de tachos, panelas, talheres e todos os electrodomésticos de que diariamente nos servimos.
Estão na televisão, no computador e nas consolas, no telemóvel e nos «smartphones» de que tanto gostamos. Estão, ainda, nas jóias feitas de pedras preciosas.
Do sílex dos primeiros machados ao mineral de onde se extrai o urânio usado nas centrais nucleares, mas que também serve para fazer bombas atómicas passando pelos pedregulhos (pelouros) de catapultas e bombardas, as pedras foram e são uma constante na tenebrosa indústria da guerra. O homem, no seu imenso engenho, retirou das pedras todas as matérias-primas com que fez o progresso em paz, mas também, desgraçadamente, a guerra, um flagelo que, numa caminhada de milhares de anos, sempre acompanhou a humanidade.

Os fósseis

É dentro das rochas que encontramos os fósseis. E o que é um fóssil? Pergunta quem não sabe.
Um fóssil é um resto ou vestígio de um animal ou de uma planta que viveu no passado. É o testemunho de um ser que já não existe ou, dito de outra maneira, que já se extinguiu.
Consideram-se fósseis porque os respectivos animais ou plantas já não existem, mas sabemos que existiram porque nos deixaram os seus testemunhos dentro de uma rocha. E também sabemos que essa rocha foi um sedimento depositado sobre ele, que o conservou, dentro do qual a matéria orgânica de que o ser era feito se transformou em matéria mineral.
No sentido mais antigo do termo, fóssil era todo o material que se desenterrava ou extraía de dentro da terra (do latim fossile, desenterrado). Com a mesma origem temos fosso e fossa que designam uma escavação no terreno e, ainda, o verbo fossar, que é o que os porcos fazem com o focinho em busca de raízes ou de bichos escondidos no chão. Só no Sec. XVIII o termo passou a ser usado no sentido que hoje tem em paleontologia. 
Os fósseis são muito importantes porque nos permitem contar a história da Vida.

A. M. Galopim de Carvalho

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Dia da Escola

Decorreu ontem um dia festivo de saber e de pedagogia na minha escola, agora incluída, enquanto sede, num mega-agrupamento. Comemorava-se o seu patrono - o arquitecto e engenheiro Carlos Luís Ferreira da Cruz Amarante  (Braga, 29 de Outubro de 1748 - Porto, 22 de Janeiro de 1815).
Com grande energia, professores (fazendo das fraquezas forças) e alunos montaram e prepararam previamente exposições diversas, actividades laboratoriais (de biologia, de física e de química), aulas abertas, jogos didácticos e desportivos, concursos e torneios, debates, palestras, oficinas como as de artes e de latim, uma sessão de robótica, etc. Durante a manhã e a tarde docentes e discentes aguentaram firmes e receberam com simpatia os visitantes, alunos de escolas do agrupamento e de outras escolas que não lhe pertencem. Coube aos alunos da casa o papel de anfitriões, animadores, orientadores e, mesmo, “professores”, papéis em que tiveram assinalável gosto e brio e com que contagiaram os mais pequenos que, pela primeira vez, vieram até nós com uma curiosidade que, rapidamente, passava a entusiasmo.
Pela minha parte, tive um prémio que me deixou comovido, e que consistiu na possibilidade de assistir a uma sessão de «promoção das línguas e culturas clássicas» pela «Associação CLENARDVS», levada a efeito pelo jovem professor da Universidade do Minho, André Emanuel V. Antunes, o qual durante três anos foi meu brilhante aluno do ensino secundário, inserido numa turma dos cursos de… ciências.
O dia contou também com uma sessão de atribuição de diplomas aos melhores alunos do ano lectivo anterior e uma homenagem simples a professores e funcionários aposentados.
Foi um dia muito preenchido, tão cansativo quanto belo e compensador.
À tarde, devido à falta de funcionários, que ajudaram tanto quanto puderam, vários professores limparam e arrumaram espaços, mobiliário e equipamento, porque hoje, às 08.20 horas, era preciso iniciar um dia normal de aulas, como aconteceu. E, nesta manhã, chegaram (ainda) cansados, mas com um brilhozinho nos olhos.
Sem boas sementeiras não pode haver boas colheitas.
Porfiemos.

José Batista d’Ascenção

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Duas baixas no meu grupo disciplinar…

Como temia, fiquei a saber (hoje) que duas das minhas queridas Colegas de grupo disciplinar, de há longos anos, na escola em que trabalhamos, meteram baixa. São boas profissionais, rarissimamente faltavam e aguentaram até não poderem mais. É tanta a falta que fazem, aos alunos e a nós, colegas, como a tristeza que deixam.
À A.R. e à C.L. desejo que as tempestades que se abateram sobre as suas vidas aliviem o mais depressa possível. Não há mal que sempre possa durar. E há sofrimentos que ninguém merece, mormente as pessoas que sempre tiveram uma enorme atenção aos outros e que nunca falharam na sua disponibilidade profissional. Ocorre-me aquela quadra simples de António Aleixo:
Queria que o mundo soubesse
Que a dor que tortura a vida
É quase sempre sentida
Por quem menos a merece.

E Vós não mereceis, queridas Amigas, estimadas Colegas.
Estarei sempre à Vossa espera. Eu e não apenas eu.
Um grande abraço.

JB

José Batista d’Ascenção

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A Escola que trucida professores

Porque vejo eu tantos professores a falar da (desejada) ida para a reforma?, ou de que sentem que não aguentam e que vão meter atestado médico (ressalvando a sua pena pelos alunos)?, ou de que não entendem a pressão que sobre eles é exercida para que haja boas “notas” (independentemente de os alunos saberem ou não)?, ou de que chegam a sentir receio de circular nos corredores da escola desertos de funcionários, em horas em que o movimento é menor?, ou de que não têm tempo para preparar as suas aulas, fazer e corrigir os testes?, ou de que estão fartos de reuniões que servem para discutir tudo menos o que é importante para poderem trabalhar melhor? Enfim, porque vejo eu tantos deles desanimados e mesmo em pânico, com o presente e com o futuro?
Ontem testemunhei tudo isto, presencialmente. Mas só hoje o passo a escrito por uma questão prudencial, para não o fazer a quente, dominado pelo sentimento.
Bem sei que para quem está de fora (quem sabe se sofrendo tanto como os docentes…), uma solução fácil seria despedir sumariamente todos os professores fragilizados ou em desespero. Mas, parece-me que se os substituíssem por outros, mesmo jovens e frescos, a breve trecho eles ficariam num estado parecido ao dos que, envelhecidos e destroçados, estão em funções.
Perante tudo isto, as entidades superiores parecem dormentes…
E até alguns defensores vistosos dos professores e das escolas e dos alunos, sempre prontos a dar receitas de pedagogia, se possível vendendo uns livros (supostamente) analíticos e prescritivos, parece andarem (mais) silenciosos, o que, pela minha parte, agradeço.
Não pude evitar escrever estas linhas, de que sou (o único) responsável, referindo-me a terceiros, julgando alcançar bem a dimensão e a profundidade do que sentem e, sobretudo, antecipar as consequências disso…

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Eis-nos (embalados) no 2º período

À lida, prezados meninos, caríssimos professores e estimados funcionários!
Já só faltam dois terços do ano lectivo.
Para muitos alunos, o segundo período foi, em tempos, o das “boas notas” (ou das melhores “notas” possíveis) e o terceiro correspondia ao tempo de “aproveitar a embalagem”, dado que já só faltava um “pouquinho” para o final do ano. Se esta “ladainha” não servir para animar, procurem (via) melhor, sem desistir (de algo com efeito equivalente…).
Para os professores: é aguentar, que já faltou mais que agora, e há tanto a fazer que quando conseguirmos dar conta do recado (exaustos), o ano lectivo já (nos) fugiu há muito.
E para os senhores funcionários: esqueçam o barulho dos meninos nos corredores, esqueçam também o pouco que ganham e a diversidade de tarefas a que têm de acorrer, mas não faltem com o vosso esforço e o vosso sorriso que, sem eles, nem os alunos nem os professores vão a lado nenhum.
E aos senhores encarregados de educação, pode-se pedir alguma coisa? Não, os professores, pelo menos, não podem, mas não estão proibidos de, humildemente, darem uma sugestão: tentem reparar em como - professores e funcionários - gostamos de ver crescer os vossos filhos: porque aprendem, porque ficam mais bem formados e mais crescidos e mais completos e mais aptos a mostrar como foram bem educados pelos pais e ensinados pelos (seus) professores. E mais: não são só os pais que ficam orgulhosos deles. Os professores também. E muito.
Vamos lá, então.

José Batista d’Ascenção