Rochas
Rochas e pedras são a mesma coisa?
Praticamente, a resposta é sim. Pedra é aquilo que se apanha do chão para dar uma pedrada. Podemos dizer, numa linguagem vulgar, que as pedras são bocados de rocha.
As pedras ou rochas são as entidades naturais construtoras da capa mais externa da Terra, chamada litosfera ou esfera rochosa, uma vez que o elemento grego “lithós” significa pedra. São rígidas, o que quer dizer que não se amolgam nem se dobram, são geralmente coesas, uma vez que são muito poucas as que se esboroam ou esfarelam, e fazem mossa onde quer que batam porque são duras.
Pedra vem do grego “pétra”, através do latim “petra” e é, por assim dizer, um modo mais popular de dizer rocha. A palavra rocha chegou-nos mais tarde, veio do francês “roche”. Dir-se-á que é um galicismo que acabou por substituir o nosso termo “roca”, bem mais antigo, talvez anterior à presença aqui dos romanos e que, entretanto, caiu no esquecimento. Nós ainda falamos de enrocamentos, quando nos referimos às obras de protecção do litoral com grandes blocos de rocha, e dizemos Cabo da Roca, em alusão a rocha.
Apanhamos uma pedra do chão mas, quando estudamos, falamos quase sempre de rochas. Na indústria e no comércio fala-se indistintamente de pedras ou rochas ornamentais, Dizemos rochedo quando um afloramento de pedra é grande e apelidamos de rochoso um terreno pedregoso.
Na sistemática das rochas sedimentares o conceito de rocha é mais alargado, nem sempre coincidente com o de pedra.
Geradas na interface da litosfera com a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera, nas condições de pressão, temperatura e quimismo próprias da superfície do planeta, as rochas sedimentares são hoje entendidas como o produto da deposição gravítica de um, dois ou três dos seguintes constituintes fundamentais:
- terrígenos, com proveniência nas terras emersas, resultantes da erosão de outras rochas preexistentes;
- quimiogénicos, resultantes da precipitação de substâncias dissolvidas nas águas;
- biogénicos ou organogénicos, quer edificados por alguns organismos em vida, como os corais, quer por acumulações dos restos esqueléticos de outros, após a morte, como conchas de moluscos e outros.
Nesta base, a maioria dos autores inclui nas rochas sedimentares, não só os materiais coesos, isto é, litificados ou petrificados, com o aspecto que todos associamos à palavra rocha, sinónimo de pedra, como também as acumulações dos seus constituintes não consolidados e, portanto, incoesos, remobilizáveis ou móveis, como são as cascalheiras, as areias ou as argilas.
Assim, em geologia sedimentar fala-se de rochas consolidadas ou coesas e de rochas móveis ou incoesas.
Para alguns autores há, ainda, as rochas residuais, entendidas como geradas no próprio local onde os respectivos componentes se formaram por meteorização, isto é, por alteração pelos agentes atmosféricos, e que, portanto, não sofreram qualquer transporte. São os alteritos ou rególitos e neles se incluem os saibros ou arenas. São, ainda, os barros, a terra rossa, os lateritos e os bauxitos.
Em geologia de engenharia fala-se de bedrock, termo internacionalizado para designar a rocha coesa não meteorizada (sã), subjacente a depósitos aluviais ou outros, bem como à capa de meteorização, havendo quem lhe chame rocha de fundo.
Noção de mineral
É preciso saber que a palavra mineral deriva de mina que, para nós, tanto é uma escavação que se faz numa encosta, a fim de fazer sair a água que circula dentro dela, como outra que se faça em profundidade, em qualquer local do terreno, para explorar certos produtos que, precisamente, por serem extraídos de minas, foram designados por minerais.
A definição, hoje aceite por quem os estuda, diz, simplesmente, que mineral é todo o elemento ou composto químico, geralmente cristalino, gerado por um processo geológico.
Entre os minerais formados por um só elemento químico, lembremos o diamante e a grafite, ambos formados por carbono, o mesmo elemento de que é feito carvão; lembremos o ouro, a prata, o cobre e o enxofre.
Através dos seus minerais e de alguns dos seus atributos, com o seja o tamanho dos grãos, as rochas permitem-nos conhecer as causas que lhes deram origem, o ambiente químico e as condições de pressão e de temperatura em que foram geradas ou transformadas. Muitas delas revelam-nos, ainda, a data do seu nascimento.
As pedras e a vida das pessoas
As pedras ou as rochas ocuparam, desde sempre, um espaço importante na vida das pessoas. Os nossos antepassados da chamada Idade da Pedra encontraram abrigo e segurança nas grutas e cavernas abertas nas rochas. Foi com uma pedra chamada sílex que fizeram os primeiros utensílios e as primeiras armas
Foi com rochas que se fortificaram os primeiros povoados e se ergueram castelos e palácios ao longo da História. Estão nas estátuas dos nossos heróis, nas calçadas e pavimentos que pisamos.
Dão-nos o ferro, o cimento, a brita e a areia do betão. Dão-nos a cal que faz a brancura do casario alentejano e algarvio.
São matéria-prima de todos os metais com que se constroem navios, comboios, aviões, automóveis e naves espaciais e estão na base de tachos, panelas, talheres e todos os electrodomésticos de que diariamente nos servimos.
Estão na televisão, no computador e nas consolas, no telemóvel e nos «smartphones» de que tanto gostamos. Estão, ainda, nas jóias feitas de pedras preciosas.
Do sílex dos primeiros machados ao mineral de onde se extrai o urânio usado nas centrais nucleares, mas que também serve para fazer bombas atómicas passando pelos pedregulhos (pelouros) de catapultas e bombardas, as pedras foram e são uma constante na tenebrosa indústria da guerra. O homem, no seu imenso engenho, retirou das pedras todas as matérias-primas com que fez o progresso em paz, mas também, desgraçadamente, a guerra, um flagelo que, numa caminhada de milhares de anos, sempre acompanhou a humanidade.
Os fósseis
É dentro das rochas que encontramos os fósseis. E o que é um fóssil? Pergunta quem não sabe.
Um fóssil é um resto ou vestígio de um animal ou de uma planta que viveu no passado. É o testemunho de um ser que já não existe ou, dito de outra maneira, que já se extinguiu.
Consideram-se fósseis porque os respectivos animais ou plantas já não existem, mas sabemos que existiram porque nos deixaram os seus testemunhos dentro de uma rocha. E também sabemos que essa rocha foi um sedimento depositado sobre ele, que o conservou, dentro do qual a matéria orgânica de que o ser era feito se transformou em matéria mineral.
No sentido mais antigo do termo, fóssil era todo o material que se desenterrava ou extraía de dentro da terra (do latim fossile, desenterrado). Com a mesma origem temos fosso e fossa que designam uma escavação no terreno e, ainda, o verbo fossar, que é o que os porcos fazem com o focinho em busca de raízes ou de bichos escondidos no chão. Só no Sec. XVIII o termo passou a ser usado no sentido que hoje tem em paleontologia.
Os fósseis são muito importantes porque nos permitem contar a história da Vida.
A. M. Galopim de Carvalho