A Água
O corpo dos seres vivos é maioritariamente constituído por água. Por exemplo, num corpo humano com 70 kg , 42 kg são de água, 12 kg de gorduras, 12 kg de proteínas, 2 kg de açúcares e 2 kg de outras substâncias. Isto é, a maior parte do corpo humano (60%) é água.
É fácil demonstrar que sem água não há vida e que o corpo dos seres vivos é maioritariamente constituído por água. Todos sabem que a espécie humana é capaz de sobreviver 2-3 meses sem comer, desde que se movimente o mínimo possível para não consumir o combustível (gorduras, açúcares e proteínas) que tem acumulado no corpo. Uma pessoa em greve de fome emagrece. Mas não há ninguém que faça greve de sede, pois não aguentava mais do que 2-3 dias vivo. Também, quando uma pessoa está muito doente e não pode abrir a boca, dão-lhe soro intravenoso, que é fundamentalmente água.
É por isso que, em todo o Globo Terrestre, é fundamental preservar as Zonas Húmidas, não só por conterem uma grande diversidade e quantidade de seres vivos, como também por serem reservas de água, muito importantes para nós e para os seres vivos de que dependemos.
Infelizmente, estamos, há séculos, a fazer desaparecer grandes áreas de Zonas Húmidas. A drenagem de zonas alagadiças ou pantanosas não é uma prática moderna, já que se encontram provas arqueológicas disso, como a drenagem efectuada pelos etruscos dos amplos charcos em volta da colina onde se fundou Roma. Quando se procedeu à drenagem maciça de extensas áreas húmidas, por exemplo, no Languedoc-Roussillon (Sul de França) e na Pianura Pontina (CW de Itália), ignoravam-se os danos que daí adviriam. Actualmente, efeitos drásticos nas áreas húmidas estão também a ser produzidos por outras “pragas” da civilização, como a “regularização” de rios, construção de portos, vias rodoviárias e ferroviárias, urbanizações sem nexo, etc.
As Zonas Húmidas, além de serem ecossistemas de elevada Biodiversidade, são essenciais para a vida e para a agricultura.
Por outro lado, com a “revolução industrial” iniciou-se a poluição do Globo, agravada, durante a segunda metade do século XX, com a “revolução verde” da agricultura. Assim, abarrotaram-se extensas Zonas Húmidas de produtos químicos nocivos, como pesticidas, agro-químicos, detergentes, nitratos, iões metálicos e muitos outros compostos vertidos por efluentes urbanos e industriais sem tratamento prévio. Ora, a nossa espécie só pode utilizar água potável. Não somos como muitos outros animais que conseguem beber água poluída com seres patogénicos ou com produtos químicos tóxicos. A água, desde que esteja poluída, pode matar-nos ou provocar-nos doenças que, posteriormente, muitas vezes levam à morte.
Qualquer pessoa sabe que precisa de comer para viver e crescer e que a comida é constituída por material biológico (vegetal e animal ou outro); que a água potável é imprescindível à vida humana; que não se pode viver no seio do lixo; que a actividade industrial tem de ter regras de conduta para não poluir; que a atmosfera terrestre está repleta de gases tóxicos e que a concentração de gás carbónico (CO2) tem vindo a aumentar desmesuradamente, com o consequente efeito de estufa; etc.
Praticamente toda a gente tem alguma consciência do que está a acontecer no Globo Terrestre, com o consequente risco de sobrevivência da nossa espécie, mas, a maioria das pessoas, não só não tem a educação ambiental necessária para entender o que se está a passar, como também para perceber que tem de mudar a sua maneira de estar na Terra. A grande maioria da população mundial não tem a mínima preocupação de produzir pouco lixo. Há lixo sólido espalhado por todo o Globo Terrestre, particularmente invólucros de plástico. O plástico é leve, “voando” para os rios, e estes arrastam-no para os oceanos. Assim, o Mediterrâneo está repleto de plástico flutuante que escoa para o Atlântico, recebendo os oceanos este plástico e o de outras áreas. Finalmente, as correntes marinhas agregaram grande parte do plástico flutuante em cinco ilhas. Duas no Pacífico, duas no Atlântico e uma no Índico. Só a do Pacífico Norte tem uma superfície igual a 38 vezes a de Portugal Continental. Desta maneira, antes do final do século, a superfície dos oceanos deve estar praticamente coberta de plástico.
Não podemos continuar a poluir o Globo Terrestre como temos vindo a fazer, pois podemos atingir um estado de poluição tal que não será possível a vivência humana nesta gigantesca gaiola que é Terra.
Jorge Paiva
(Biólogo)
Centro de Ecologia Funcional. Universidade de Coimbra
Afixado por José Batista d'Ascenção