Falaram-me dela e nunca mais a esqueci. Não me lembro do nome. Não foi minha aluna. Chegava de autocarro, largos minutos antes do toque de entrada, às 08.20 h, provinda de uma freguesia da periferia urbana. Optava por esse autocarro porque o que devia chegar à hora, frequentemente, atrasava-se muito. Era, portanto, das primeiras a chegar. Os funcionários conheciam-na e logo lhe abriam as portas, particularmente nos dias frios ou chuvosos. Pelo que ouvi era pontual em todas as disciplinas. Trazia sempre os «têpêcês» (trabalhos de casa) feitos. Era generosa e disponível, trabalhava bem em grupo. O pai perdera o emprego e ficara abatido; bebia, e o ambiente em casa seria carregado. A mãe era doente. Assim mesmo, diziam-me, tentava estar bem disposta. E conseguia ser boa aluna. Na sua aldeia, como na escola, era estimada. Porque as possibilidades, em casa, eram muito limitadas não dispunha de «internet». Conhecedor, o Presidente da Junta de Freguesia, disponibilizava-lhe umas horas na sede da Junta, que ela aproveitava criteriosamente. Não se queixava. Metódica, trabalhadora, disciplinada, atenta e respeitadora, procurava organizar os frangalhos da vida, sem fazer dela um inferno maior do que efectivamente seria. Com discrição, afável e determinada.
Passaram anos, não sei como se conjugou a sua vida: Terminou um curso? Trabalha? Emigrou? Constituiu família? É (minimamente…) feliz?
Não sei a resposta a cada uma daquelas perguntas e tenho receio de conhecê-la… Por analogia com vários outros casos de cuja evolução tomei conhecimento mais completo.
José Batista d’Ascenção
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