Os professores que leccionam e que, por isso, lidam directamente com os alunos na sala de aulas, têm, de modo geral, um sentimento de impotência e até de desânimo de que a sociedade e, muito especialmente, o poder político não têm noção. A perplexidade maior talvez possa ser traduzida pela pergunta: para que serve um professor? E, para aqueles que já passaram dos cinquenta anos, que são a larguíssima maioria - a docência envelhece vertiginosamente -, atingir a reforma passou a constituir uma esperança tão desejada quanto longínqua face ao seu estado de espírito e, tantas vezes, de saúde.
Atingiu-se uma situação deplorável em que os males da docência não radicam fundamentalmente nos alunos nem sequer na inadequação dos professores. Mas derivam, isso sim, dos obstáculos que a todo o momento colocam aos docentes e na desvalorização constante de que são alvo. Por excesso de motivos, e para encurtar razões, limito-me a um simples exemplo: Desde há muitas décadas, os professores organizavam-se por grupos disciplinares, que é o modo básico mais válido e profícuo de trabalharem. E o conselho pedagógico era basicamente constituído por representantes dos grupos disciplinares, eleitos pelos colegas. Porque se disseminou a ideia de que os conselhos pedagógicos haviam cristalizado em perspectivas restritas ao corporativismo dos professores foi a sua composição alargada, passando a integrar alunos, funcionários, administrativos e encarregados de educação, entre outros, caindo-se no absurdo de a responsabilidade da pedagogia ficar aos ombros dos professores, mas impedindo-os de, maioritariamente, a poderem definir… Surgiriam então os departamentos – agrupamentos de grupos disciplinares – com um representante em conselho pedagógico. Nada se ganhou com isso, os departamentos são organismos artificiais que, frequentemente, quando reúnem conjuntamente, não têm espaços onde caibam e operam difícil e deficientemente porque o trabalho concreto e específico raramente se aplica à totalidade ou até à maior parte dos docentes de um mesmo departamento. Como os resultados não melhoraram e as hierarquias acham sempre que devem introduzir mais e mais alterações, decidiu-se que era preciso pegar nos departamentos e agrupá-los em «áreas de docência», com o respectivo coordenador. Por tais razões, onde antes havia um regulamento de grupo disciplinar, há agora também regulamentos para o departamento e para a área de docência. E se antes havia reuniões de grupo, há agora, também, de departamento e de área de docência. E actas, de cada uma dessas reuniões. E relatórios. E planos. E projectos. Etc. Repetindo o mesmo vezes sem conta, sem alma, sem moderação e sem inteligência. Para nada. Até ao próximo acrescento de complexidade, com resultados idênticos (na realidade, piores).
Atingiu-se uma situação deplorável em que os males da docência não radicam fundamentalmente nos alunos nem sequer na inadequação dos professores. Mas derivam, isso sim, dos obstáculos que a todo o momento colocam aos docentes e na desvalorização constante de que são alvo. Por excesso de motivos, e para encurtar razões, limito-me a um simples exemplo: Desde há muitas décadas, os professores organizavam-se por grupos disciplinares, que é o modo básico mais válido e profícuo de trabalharem. E o conselho pedagógico era basicamente constituído por representantes dos grupos disciplinares, eleitos pelos colegas. Porque se disseminou a ideia de que os conselhos pedagógicos haviam cristalizado em perspectivas restritas ao corporativismo dos professores foi a sua composição alargada, passando a integrar alunos, funcionários, administrativos e encarregados de educação, entre outros, caindo-se no absurdo de a responsabilidade da pedagogia ficar aos ombros dos professores, mas impedindo-os de, maioritariamente, a poderem definir… Surgiriam então os departamentos – agrupamentos de grupos disciplinares – com um representante em conselho pedagógico. Nada se ganhou com isso, os departamentos são organismos artificiais que, frequentemente, quando reúnem conjuntamente, não têm espaços onde caibam e operam difícil e deficientemente porque o trabalho concreto e específico raramente se aplica à totalidade ou até à maior parte dos docentes de um mesmo departamento. Como os resultados não melhoraram e as hierarquias acham sempre que devem introduzir mais e mais alterações, decidiu-se que era preciso pegar nos departamentos e agrupá-los em «áreas de docência», com o respectivo coordenador. Por tais razões, onde antes havia um regulamento de grupo disciplinar, há agora também regulamentos para o departamento e para a área de docência. E se antes havia reuniões de grupo, há agora, também, de departamento e de área de docência. E actas, de cada uma dessas reuniões. E relatórios. E planos. E projectos. Etc. Repetindo o mesmo vezes sem conta, sem alma, sem moderação e sem inteligência. Para nada. Até ao próximo acrescento de complexidade, com resultados idênticos (na realidade, piores).
E de inutilidade em inutilidade vamos desgastando os professores que se vêem obrigados a ficar de baixa com atestado médico.
Neste contexto, o perfil do aluno após a escolaridade obrigatória surge como mais um documento prenhe de generalidades com que quase todos concordarão, mas que não traz nada de novo. E que chega a recorrer a frases repletas de banalidade [«A melhor educação é a que se desenvolve como construtora de postura no mundo.» (página 8)] ou, de alguma forma, discutíveis [«Os valores não são o resultado de uma compreensão, e ainda menos de uma compreensão passiva de informações, nem de atitudes apreendidas, sem significado para o próprio sujeito.» (página 11)].
Importante era resolver os problemas que impedem que os objectivos do dito perfil (agora diz-se competências) possam ser atingidos. Dito de outro modo, aquele documento só teria alguma importância se os professores pudessem fazer o óbvio: ensinar os alunos.
José Batista d’Ascenção
Sem comentários:
Enviar um comentário