Em meu entender, a formação contínua de professores do ensino básico e secundário tem sido genérica e globalmente fraca, parece(-me) não ter dado frutos apreciáveis e talvez, até, em certos casos, tenha sido propagadora daquilo que, em extensão do conceito, me atrevo a apelidar de «pseudociência».
Mas não é sempre assim, felizmente. No passado fim-de-semana, decorreu em Coimbra o VII congresso da APPBG, subordinado ao tema «Tectónica de Placas», em que interveio um naipe de conferencistas e guias de visitas de campo do mais fino escol de que o país dispõe.
O primeiro interveniente foi o Professor Galopim de Carvalho que começou pela condição primeira: os professores devem servir para ensinar e é preciso ensinar bem, porque as crianças e jovens interessam-se e entendem, se o fizermos com a qualidade e paixão de que os professores são capazes, se os programas forem de molde a permiti-lo, se as tarefas burocráticas deixarem de esmagar os docentes, se os exames não contemplarem perguntas que ele próprio, Galopim de Carvalho, não percebe bem o que pretendem, assim como não entende a necessidade de recurso a ratoeiras inqualificáveis, etc. Na sua linguagem de rara clareza e incisão, tão diplomática e afectiva quanto cristalina e dirigida, soube pôr os pontos nos is como mais ninguém faria, o que fez explodir em palmas os muitos professores presentes.
Outro veterano, da área da biologia, da botânica, concretamente, o Professor Jorge Paiva, o único especialista vindo de fora da geologia, proporcionou uma conferência em que a fitogeografia surgiu muito bem relacionada com a deriva continental, de forma tão curiosa quanto interessante.
O dia de sábado foi muito bem preenchido desde as nove da manhã até ao fim da tarde, com almoço (rápido e bom) no local, sempre com o tempo a faltar para os palestrantes satisfazerem o interesse dos participantes. Não foi tempo perdido, nem os professores esmoreceram na sua vontade de aprender.
O dia de domingo, 23, foi dedicado a visitas de campo, três à escolha: à Península de Peniche, ao Maciço Calcário Estremenho e ao Anticlinal de Valongo e praias de Lavadores (V. N. Gaia).
Porque me ficava a caminho de casa, optei pela Visita a Valongo, guiada pelos Professores António Guerner Dias e Maria Anjos Ribeiro, do Departamento de Geociências da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Esta visita iniciou-se pela exposição “No rasto das trilobites”, patente no Museu Municipal de Valongo, onde vai ficar vários meses e pode ser visitada por alunos das escolas secundárias. De seguida, subiu-se ao alto de Sta Justa, onde pudemos observar os quartzitos puros, mais resistentes à erosão, com filões de quartzo e “manchas” de óxidos de ferro e vazios cúbicos (com arestas na ordem de 1 cm) resultantes da meteorização e erosão dos cristais de pirite que os ocupavam, possivelmente os três indicadores da presença de ouro de que os romanos se serviram para situarem as diversas minas que exploraram na região.
«Fojo das Pombas» |
Foi uma dessas minas (às dezenas), a do «Fojo das Pombas», que visitámos a seguir: devidamente equipados, com capacete e lâmpada, com uma guia bem preparada, descemos por galerias, corredores e poços, a dezenas de metros de profundidade, de onde avistámos poços mais profundos ainda. Estas minas são visitáveis, mediante marcação através da câmara municipal, tendo que aguardar-se até haver número de visitantes que o justifique (mais ou menos dez pessoas de cada vez).
Atrasados, porque os professores queriam ver, ver, ver e saber, saber, saber, passaria das 14.30 h quando fomos almoçar. Com alguma pressa, porque era preciso ir à praia de Lavadores, um museu e laboratório natural com os três tipos principais de rochas: sedimentares, metamórficas e magmáticas, ali, cheias de «pormaiores» reveladores da sua formação (e deformação, no caso das metamórficas), muito bem explicitados pelos excelentes guias que nenhuma curiosidade manifestada deixaram por esclarecer.
Praia de Lavadores - O Prof. Guerner explica... |
Mas o tempo fugia. Seriam 18.00 horas e havia quem tivesse que chegar a Portimão ou a Chaves, para preparar a trouxa, dormir e estar a dar aulas às 08.20 h de ontem. Eu era um desses, mas estava em casa às 19.30 h, depois de deixar a colega Manuela Miranda na estação rodoviária de Braga, a mascar umas bolachas, fazendo tempo para apanhar o autocarro das 20.30 h para Chaves. E estava contente, a Manuela. Como eu. E os três blocos de noventa que encaixei na manhã de ontem, com os meus alunos de 10º ano, pareceram-me até menos difíceis de conduzir do que habitualmente.
Ficou-me um pouco cara, esta «acção de formação», mas valeu bem o dinheiro.
Ficou-me um pouco cara, esta «acção de formação», mas valeu bem o dinheiro.
À APPBG, aos «formadores» e aos colegas «formandos», especialmente àqueles com quem na juventude me formei e que revi, depois de décadas, deixo um abraço sentido de parabéns, amizade e agradecimento.
José Batista d’Ascenção
PS: Hoje é uma data especial, de grande significado para mim. O escrito que antes redigi fica também como homenagem minha ao 25 de Abril, o Dia da Liberdade.
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