Não é novidade para ninguém, desde há longos anos, que algumas escolas, sobretudo privadas, inflacionam muito as classificações. Alunos longe das médias necessárias para entrar em cursos como medicina anunciam aos seus professores e colegas a intenção de mudar de escola e o motivo por que o fazem. Por seu lado, as escolas, quer públicas quer privadas, em competição cada vez maior pelos alunos, servem-se do que podem e do que lhes é permitido para os captar. Há meia dúzia de anos, um aluno meu, do 10º ano de escolaridade, logo na última aula do 1º período, “ameaçou” mudar de escola, descontente com a classificação que imaginava que ia ter na minha disciplina e provavelmente noutras. Lembro-me de que não me contive e, de rompante, perante todos, pedi atenção para três curtas notas pessoais que gostaria de fazer sobre a “advertência” do aluno:
1ª manifestar o meu desejo de boa sorte a quem quer que abandonasse a escola, particularmente se ido de turmas minhas;
2ª desejar que todo e qualquer aluno que saísse da escola e viesse a sentir saudades, se empenhasse em se adaptar à nova realidade, evitando regressar;
3º pedir que, em caso de regresso, ex-alunos meus procurassem integrar-se noutras turmas que não as minhas.
Para surpresa minha matei o assunto (que não as transferências) nas turmas que tive nesse ano e nos anos seguintes, até hoje. Mas são comuns atitudes destas perante os professores, sobretudo em aulas de entrega de testes ou nas de final de período, em que é da “praxe” proceder à (algo mitológica) “autoavaliação”. Por mais que se diga e que a realidade mostre, na família e fora dela, do desporto à justiça, da mediação dos negócios às entidades de regulação social, que ninguém deve ser juiz em causa própria, por razões óbvias, o nosso sistema educativo vive noutra dimensão, afundando-se na irrelevância e no desprestígio conhecidos.
Outra via para a “pressão” ocorre (às vezes de forma insinuada) através do director de turma, por acção de alguns encarregados de educação.
Obviamente, o Ministério da Educação tem dados objectivos que mostram que a inflação de notas tem sido uma prática sistemática e escandalosa em certas escolas, com prejuízo de muitos alunos honestos e esforçados, de cujo talento e capacidades o país não devia prescindir. Estranha-se (ou não) que as posições públicas oficiais, quando existem, se façam com pezinhos de lã, do tipo: relativamente a uma Escola A que inflaciona claramente os seus resultados, por comparação com uma outra B que não o faz, é possível que a Escola A esteja a utilizar critérios de avaliação do desempenho escolar dos seus alunos muito diferentes dos critérios utilizados pela Escola B. Também é possível, acrescento eu, que não haja critérios… aceitáveis. E que nada seja feito, de modo concreto e eficaz, para resolver tamanho problema.
Por estas e outras razões, sempre defendi a avaliação externa através de exames, os quais, no entanto, devem respeitar os programas e corresponder ao tipo de lecionação que é exigida e que os professores têm condições de praticar. Mas esta é matéria para outras análises…
José Batista d’Ascenção
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