quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

«Consumismo» e «ensino» - visão de José Saramago, no final do século XX

..."O ensino, prioritária necessidade, não ensina. Porque não quer, ou porque não sabe, ou porque não deixam. Ou porque talvez, simplesmente, tenha deixado de ser possível (se algum dia o foi) ensinar toda a gente...
Dizem-nos que a formação contínua estará lá depois para curar os males e preencher as carências, assim se insinuando, subliminarmente, que os programas e os professores da formação, só pelo facto de o serem, farão o milagre educativo que o simples trabalho escolar quotidiano não havia logrado. Os hipermercados não tomaram apenas o lugar das catedrais, eles são  também as novas escolas e as novas universidades, abertas a maiores e a menores sem distinção, com a vantagem de não exigirem exames à entrada ou notas máximas, salvo aquelas que na carteira se contiverem e o cartão de crédito cobrir. O grande subministrador de educação do nosso tempo, incluindo a «cívica» e a «moral», é o hipermercado. Somos educados para clientes. E é essa a educação básica que estamos a transmitir aos nossos filhos."

Extracto da crónica «A mão que embala o berço» da revista «Visão» 253 - 22 de Janeiro de 1998.
In: «Crónicas da Visão 1993-2018, de 01 de fevereiro de 2018» [13-15 pp].

E desde então (ainda) não mudámos o ensino para melhor.

Afixado por José Batista d'Ascenção

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