terça-feira, 11 de setembro de 2018

Recomeço

Imagem obtida aqui.
Meio de Setembro e as escolas ganham alma. Os professores, ainda às voltas com a organização das suas vidas (atirados para longe de casa, dos seus filhos e cônjuges ou retomando a lida de muitos anos na escola que os viu envelhecer), fazem reuniões, sujeitam-se a acções de formação (ou de conformação ou mesmo de deformação…), decifram e seguem ou elaboram (ou submergem em…) documentação diversa (legislação, planificações, projectos, critérios e elementos de avaliação), tentando iniciar o trabalho directo com os alunos com a frescura possível, depois de tantas sugestões de flexibilidade, inclusão, cidadania (matéria que talvez seja menos de ensinar e mais de praticar, de dar o exemplo e de exigir em conformidade), aprendizagens essenciais e vias de sucesso para o perfil desejável dos alunos, agora definido em letra de imprensa. Tantas propostas salvíficas implicam mexidas que sobrecarregam os professores com mais diligências e, em certos casos, com mais turmas em consequência de as respectivas disciplinas terem visto reduzida a sua carga lectiva semanal. Será bom que a escola não venha a ser acusada (com fundamento) de impedir a aquisição de um corpo de conhecimentos e saberes fundamentais, que a humanidade acumulou até à actualidade, pela maioria das crianças, sobretudo as mais pobres, cuja condição socio-económica e cultural, mais justifica a eficiência da acção escolar.
Cada ano lectivo devia iniciar-se com grande entusiasmo, energia e alegria e não sob o signo do desencanto e da desmotivação e do protesto, como parece ser sina em Portugal. E a culpa não é – nem pode ser – das crianças, em quem não morreu a curiosidade natural nem o gosto de aprender que as caracteriza. E que todos (pais, professores, instituições educativas) temos o dever de acarinhar e de estimular e nunca de… (às vezes tão precocemente) estiolar!
Por outro lado, não é verdade que tenha morrido nos professores o gosto de ensinar (não abdico do uso deste verbo, criminosamente fora de moda), nem o prazer e a compensação de o conseguir, mesmo que com canseira e esforço, que são próprios da função (missão) e que, assim, a dignificam.
Ainda não conheço os alunos com quem vou trabalhar este ano lectivo. Não estou mais receoso que em anos anteriores nem menos esperançoso em relação a eles (que não serão muito diferentes dos que tenho tido em anos mais recentes). Já o mesmo não digo sobre as recorrentes (des)orientações ministeriais. Dificuldades? Com certeza, mas privilégios maiores são (primeiro) ter a oportunidade de enfrentar essas dificuldades e (segundo) reunir as condições e as forças para (com mais ou menos sacrifícios) as levar de vencida.
Que a Escola é tão só como a fazemos. Tomara que o mais importante nela fossem os alunos e a acção dos professores que os ensinam (lamento a reincidência no verbo). Tudo o resto devia existir apenas para o tornar possível.
Aos alunos, aos colegas, aos auxiliares, como a mim próprio, desejo «boas entradas».

José Batista d’Ascenção

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