segunda-feira, 25 de março de 2019

Boa mesa e bem comer não têm o mesmo significado – a pretexto

Imagem obtida aqui
Seja, falo de mim, exponho-me sem ser exemplo, mas faço-o livremente: gosto de comer com fome, sentado à mesa, em boa companhia, e saborear cada alimento que levo à boca. Mas, quando inicio a refeição, gosto de não demorar muito tempo a deliciar-me com o prato principal. Quando fui assíduo frequentador de cantinas, no ensino secundário e na universidade, até a sopa comia depois dele. Após a sobremesa, se houver, e, sendo possível, prezo um tempo de conversa, sem pressas, sobretudo se os convivas são de feição e o coração está em festa. Nessas alturas, apetece-me parar o tempo: pouco me dá mais prazer do que prolongar a conversa à volta da mesa, se se prestam os comensais, a altura do calendário, o dia, o horário, e as circunstâncias.
Claro que isto me traz algumas dificuldades. É hábito, nos restaurantes e em refeições caseiras mais ou menos festivas, haver tantas «entradas» e tão deliciosas que, ou as comeria a gosto, como numa bela merenda, e dispensaria o prato «pesado» que se seguiria (como já aconteceu), ou me modero e espero por esse prato, cuja hora se arrasta, e nessa altura, algum desconforto não facilita a boa conversa, sendo que, quando o dito prato (finalmente) chega, desatempado e supérfluo, já não me sabe como aprecio.
Naturalmente, disponibilizar grande variedade de «entradas» justifica os preços mais subidos de não poucas casas de pasto, mas nas casas das pessoas o hábito também se generalizou. Tenho dúvidas de que seja comer bem.
Ora bem, se alguém leu até aqui, esqueça o que escrevi antes. Era apenas um pretexto para dizer isto: um dia do final da semana passada houve jantar de festa não efusiva para nos despedirmos da D. Marina, funcionária da nossa escola que concorreu ao abrigo da lei da mobilidade e arranjou trabalho mais bem remunerado. A D. Marina, muito diligente, foi investindo na sua formação, enquanto desembaraçadamente fazia o serviço de reprografia, qualificou-se e agora deixou-nos. Ela e não só, o senhor Dores também partiu, pela mesma via legal. Mas não vieram funcionários substitutos. O remédio foi o habitual: a D. Elisabete, que já dava uma ajuda na reprografia, em alturas mais críticas, passou para a função. Só que não pode fazer o que fazia antes... Consequências:  os longos corredores da escola ficam com falta ainda maior de vigilantes permanentes, o que não é bom nem prudente.
Tivemos, pois, jantar. Um lauto jantar. Mas certa sombra de tristeza não me veio de o bacalhau e a carne chegarem à mesa a hora adiantada para a minha preferência. Nem do grande desperdício em abundância e variedade, quando tanta gente passa necessidades.
Razões outras se sobrepunham.
Felicidades, D. Marina e senhor Dores. E obrigado.

José Batista d’Ascenção

Adenda relevante: Quem também penosamente deixou (mais desfalcada) a equipa da cantina da escola, para lutar contra uma leucemia, foi a D. Júlia Abreu, em tempos referida aqui. Para ela, um abraço e um beijinho de encorajamento, de carinho e de gratidão.

Sem comentários:

Enviar um comentário