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Perdidas, as escolas vão cumprindo com (enorme) dificuldade o que deviam ser as suas funções. O problema radica exactamente no que devem/deviam ser essas funções, seja no entender dos teóricos, das hierarquias, de cada professor ou de cada encarregado de educação.
Pensam uns que os dispositivos tecnológicos de última versão apaixonam os alunos, o que é genericamente verdadeiro, e que, por essa via, eles aprendem o fundamental, o que carece de demonstração.
Outros reclamam «pedagogias activas», de preferência sem arrumação definida de mesas e cadeiras, com os alunos volantes, mexendo e falando (o que chega a confundir-se com participação nas aulas…) e quase desprezando a concentração e o silêncio e, muito particularmente, a audição atenta e respeitadora do outro: professor ou aluno que intervenha em cada momento.
A variação anterior pode englobar o «trabalho de grupo», não raro apregoado como remédio milagroso, esquecendo que ninguém trabalha bem em grupo se não cumprir certos requisitos pessoais, que são imprescindíveis antes de mais para o trabalho individual.
Há quem seja um adepto ferrenho do «trabalho de projecto», que pode ser muito bom, claro, mas para grupos restritos, e cada grupo trabalhando sobre matéria específica, o que exige disponibilidade de tempo e não só, normalmente incompatível com programas extensos e um número elevado de alunos.
Há também quem se escandalize, mesmo (ou sobretudo) entre os professores, porque há docentes que se atrevem a explicar/ensinar, quando os alunos é que deviam «construir» o próprio saber. Certos pais não vão na onda e procuram, precisamente, explicadores (na escola, às explicações tem de se chamar «apoio»…), pais que, pelos vistos, não se arrependem e recomendam o método…
E há uma nova «moda pedagógica» que é a de considerar que a escola actual tende a funcionar como a escola do século XIX (de resto, muito restrita no Portugal de oitocentos) e que é preciso fazer uma escola do século XXI, seguramente viva, apaixonante e de sucesso pleno (o que se vai conseguindo, em termos estatísticos). Trata-se de um engano, pouco sério e perigoso.
Imagine-se que alguém começava a questionar a música do século XIX: como se fazia, como se executava e como se ouvia, no sentido de considerar intoleráveis as «metodologias» subjacentes na actualidade. Estenda-se a analogia à literatura, ao desenho, à pintura ou à escultura... Seria absurdo.
Com a pedagogia também.
Nos tempos passados, como agora, havia boa e má pedagogia, bons e maus professores (cabe aqui perguntar quem e como habilitou os segundos e quem os seleccionou para ingressarem no ensino). Testemunho com um filme de arquivo da RTP sobre uma aula de campo do Professor Galopim de Carvalho, creio que anterior ao último quartel do século XX. E com as saídas de campo com o Professor Jorge Paiva (às margens do Mondego, à Margaraça, ao Paul de Arzila ou ao Gerês) ou com o rigor e beleza das suas aulas teóricas no velho anfiteatro do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, vai para quarenta anos. Sim, aquilo era e é pedagogia. Então como agora e provavelmente em qualquer tempo.
Que fazer então? Ensinar o quê e como às crianças e jovens?
Não vejo alternativa senão dar (a) autonomia (possível) às escolas, exigir-lhes transparência nas suas metodologias, avaliá-las externamente (sim, com exames, bem feitos e não apenas restringidos a provas escritas) e possibilitar às pessoas a escolha das que julgassem mais adequadas para formar os seus educandos, salvaguardando, tanto quanto possível, o respeito pela liberdade pedagógica e pela dignidade de cada professor.
A confusão reinante é que não convém.
José Batista d’Ascenção
(1) Nos tempos que correm, nos países democráticos, não há «aulas tradicionais». Para o demonstrar bastaria constatar o modo como as crianças estão na sala de aula, e ainda bem. Porém, não raro, e cada vez mais, fazem (mais ou menos) o que querem, com os resultados que conhecemos.
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