sexta-feira, 14 de junho de 2019

A última aula do ano lectivo

Imagem obtida aqui. Adaptada.
Às 08.20, não foram mais pontuais do que o costume cerca de metade dos alunos da turma. Mas foram chegando e só um dos lugares permaneceu vazio. No sumário escrevemos: «Verificação dos cadernos diários. Audição da opinião dos alunos sobre o trabalho realizado».
Dois alunos não trouxeram o caderno [de que só ia ver a parte do 3º período], um deles tinha um caderno sofrível, os restantes tinham-no apresentável, sendo que mais de um terço dos alunos tinham um registo muito bom ou excelente das actividades das aulas. Os testes escritos também estavam, em quase metade dos casos, assinados no sítio da rubrica dos encarregados de educação.
As opiniões dos alunos sobre as aulas e sobre si próprios e o seu trabalho, feitas oralmente perante todos, mas respeitando também o direito de cada um ao silêncio, quadravam com o que efectivamente foram fazendo ao longo do ano, com particular incidência no terceiro período. A generalidade dos alunos tem uma noção consideravelmente precisa do seu empenhamento e do rendimento obtido.
Uma das opiniões referiu que o professor devia ser mais tolerante com alguns comportamentos dos alunos. Agradeci sinceramente a franqueza e pedi o esforço de compreensão para que não se confunda tolerância com «toleirância», mal em que se cai, vezes demasiadas, nas nossas escolas. Não me alonguei e pareceu-me não suscitar discordâncias, pelo menos aparentemente… Uma outra opinião, de outro aluno, foi a de que «o professor gosta de ensinar», a qual me soube bem ouvir e que pedi para comentar, do seguinte modo: - Sim, gosto muito das escolas, especialmente da porta da sala de aulas para dentro.
Finda a sessão, desejei-lhes «boas férias», mandei-os arrumar as cadeirinhas e sair. Pouco depois, já na rua, à porta da escola, dirigia-se-me, solícita, a aluna que faltara. Adormecera. - Como vai ser? - perguntava – não lhe mostrei o caderno diário, que tenho aqui – acrescentou. Perguntei-lhe se estava direitinho. Que sim, disse, com um sorriso humilde, de quem pede desculpa. – Vou registar, respondi-lhe. E despedi-me.
Dava dois passos e sentia qualquer coisa como uma imensa ternura ou saudade ou não sei o quê.
Raio de vida. Vá lá eu compreender-me.  

José Batista d’Ascenção

Sem comentários:

Enviar um comentário