terça-feira, 14 de abril de 2020

A boa pedagogia não tem data (II)

[Continuação]

Prof. Emile Planchard. Foto de 1979,
obtida a partir daqui.
Naturalmente, também as palavras do próprio autor, Emile Planchard (1905-1990), professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, chamam recorrentemente a atenção para os ensinamentos do passado, em muitas das páginas deste seu livro. «Desde os tempos mais remotos, houve «inovadores» e «tradicionalistas», uns e outros tendo muitas vezes tendência para desprezar o que havia de aceitável e até de defensável nos seus adversários»… (pg 123). «Há, na base da pedagogia tradicional verdades incontestáveis, tão incontestáveis como aquelas que os modernos defendem» (pg 130). O «teaching» e o «learning» não são termos antagónicos, «como poderia o aluno descobrir tudo por si mesmo? O professor é obrigado, relativamente a grande quantidade de noções a transmitir-lhas verbalmente, uma vez que a linguagem oral é um meio de comunicação próprio do homem e o mais natural» (pg 131). Quanto à ideia de suprimir toda a distância entre professores e alunos «é seguir um caminho perigoso: a familiaridade e a simplicidade podem muito bem acomodar-se com a autoridade» (pg 134). «Infelizmente, grande número de investigadores [em pedagogia]] tinham mais boa vontade e entusiasmo do que verdadeira competência» (pg 179). Citando A. Binet, pedagogo e psicólogo francês (1857-1911): «a cada passo, aparece um professor que inventa um método […]. …tendo apoio, sobretudo político, consegue fazer adoptar publicamente o seu método. […]. Se chega a entrar em moda, esta, tal como uma vaga, ergue, eleva até às nuvens o novo processo, mas, pouco depois, a onda retira-se e o que antes parecia maravilhoso, vai caindo em profundo esquecimento…» (pg 421).
Etc.
É um facto que, em pedagogia, como em qualquer área, o gosto profissional é uma peça-chave e o exercício da humildade nunca fez mal a ninguém. E, se a realidade devidamente analisada é a melhor mestra, talvez possamos afirmar que não há métodos maus com professores bons nem métodos bons com professores medíocres. Sem esquecer que o pedagogo deve ser uma pessoa do seu tempo. Também lhe é permitido estar à frente dele, se a eficácia e o apreço dos alunos o proteger do risco.
Em qualquer caso, a profissão docente exige rigor na preparação científica, selecção criteriosa, avaliação justa e formação permanente de todos os professores. 

José Batista d’Ascenção

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