sexta-feira, 24 de julho de 2020

Exames nacionais e ortografia

Imagem obtida aqui.
Não é prática minha (nem aprecio) a exibição de erros dos alunos, por acreditar que tem muito mais valor pedagógico a exploração de tudo aquilo que fazem bem. Porém, o abandalhamento das regras da gramática e da ortografia, que impede que muitos compreendam o que lhes é dito e o que (em certas situações) são obrigados a ler, não me permite ficar indiferente à quantidade e ao teor de erros que detectei em metade das menos de três dezenas de exames (de biologia e geologia) que fui chamado a “corrigir”. Erros da mesma natureza em palavras da mesma família li-os em provas de alunos diferentes. Alguns erros são comuns a vários alunos. Não assinalei as falhas (muitas) de acentuação de palavras, que não poucos alunos desprezam. Antiquadamente (e inutilmente) sublinhei a vermelho os erros de que me apercebi, mas é quase certo que não o terei feito em todos os casos, tantos eles são. Eis aqueles de que me lembro, por ordem alfabética:

Abituam-se (habituam-se)
Agreciva (agressiva)
Ascenção (ascensão)
Boracos (buracos)
Bromitol (bromotimol)
Casou (causou)
Conclui-o (concluo)
Devesse (deve-se)
Dissipa-se (dissipasse)
Enfrantar (enfrentar)
Erudiu (erodiu)
Erusiva (erosiva)
Estam (estão)
Experência (experiência)
Explusiva (explosiva)
Extenção (extensão)
Fize-se (fizesse)
Hestorial (historial)
Hidrogenocarboneto (hidrogenocarbonato)
Houveram trocas (houve trocas)
Iram fazer (irão fazer)
Irá-se (ir-se-á)
Obcuridade (obscuridade)
Ocorreu diversas… (ocorreram diversas…)
Ouve (houve)
Ouve-se (houvesse)
Passa-se (passasse)
Percipitam (precipitam)
Planice (planície)
Pusturas (posturas)
Se deposita-sem (depositassem)
Teram (terão)
Tranvertino (travertino

Também não atendi ao desprezo tornado comum (nas redes sociais, na TV, nos jornais e... nas escolas!) pelas preposições, nem à incongruência de certas frases do tipo “uma placa tectónica mergulhar sobre outra”.
O próprio enunciado de exame leva longe demais as tendências fomentadas pelo chamado «novo acordo ortográfico» quando escreve «zonas de subdução» (página 12), com prejuízo imediato da correcção fonética. Admito “evoluções” subsequentes do termo, receando que passe (também) a ser grafado com “ésse” dobrado. Por mim, continuarei a escrever e a pronunciar “subducção”.
Pensamos com a língua em que nos expressamos, suponho.

José Batista d’Ascenção

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