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Por múltiplas razões, a mobilidade dos cidadãos acentuou-se nas últimas duas-três décadas. Portugal, país de emigrantes, tornou-se, também ele, como a Europa, de que faz parte, destino de muitos estrangeiros, individualmente ou por junto, incluindo grupos familiares. Chega(ra)m dos países de leste, após a fragmentação da URSS, com o colapso do regime político daquela união e dos seus satélites, da China, de imensas regiões do norte de África, do Brasil e da Venezuela (neste caso trata-se de portugueses ali emigrados e/ou dos seus descendentes).
As crianças nascidas destes “viajantes” são em número significativo nas nossas escolas. Este contributo para a renovação da juventude portuguesa não pode deixar de influenciar positivamente (espera-se) o futuro de Portugal, face aos baixos valores da natalidade no país.
Sou dos que vêem com bons olhos este aporte populacional, que espero que se traduza em enriquecimento cultural e económico dos portugueses.
Por outro lado, penso que, se os meus netos, como outras criancinhas filhas de jovens portugueses emigrados por esse mundo fora (fugidos à pobreza do país) regressarem, maiores e melhores serão as perspectivas do tempo que há-de vir, neste cantinho, berço antigo e duradoiro do que fomos e seremos.
Para isso é preciso que a escola trabalhe melhor, o que está perfeitamente ao nosso alcance. Estas crianças e jovens que “vêm de longe” (mesmo se nascidas cá) parece-me terem uma atitude diferente e mais favorável relativamente ao cumprimento dos seus deveres do que aqueles que são ancestralmente portugueses, mais propensos à batota (que chega ao cúmulo de ser exigida como “direito”), à desculpa esfarrapada, à fraqueza da inveja, ao alijar de responsabilidades, etc. Claro que nem todos somos assim (nem os estrangeiros são melhores do que nós), mas estes traços caracterizam-nos, desde as primeiras gerações. E o resultado é o que somos e o que temos intramuros. Se vamos lá para fora, não nos aparam o jogo e, por isso, o desempenho melhora. Aquela ideia de que só fogem do país os mais capacitados – os melhores de nós – carece de demonstração.
No que me toca, sinto-me privilegiado por poder trabalhar com jovens de muitas proveniências. E acarinho-os e encorajo-os tanto quanto posso, porque acredito neles. De algum modo para compensar o falhanço de cidadania e desenvolvimento que atribuo à geração de que faço parte.
José Batista d’Ascenção
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