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A minha amiga de longa data, São B., é professora há tantos anos como eu e trabalha na capital do Baixo Alentejo. Este ano calharam-lhe alunos de três níveis, incluindo duas turmas do ensino básico. Como não desiste de ser rigorosa e se aplica com todas as suas forças, está pelos cabelos. A fazer sessenta anos, lutadora tenaz contra os azares da vida, incluindo um cancro muito agressivo, que venceu, vê com muita tristeza e desalento a deseducação e desinteresse das criancinhas, que não se comportam como crianças na sua “recusa de aprender” e fazem o possível para se tornarem insuportáveis, no que contam com a sua oposição firme e determinada, que ela não é mulher de morrer de medo, nem lá perto.
Na troca de «mails» que tivemos por estes dias deu-me nota da sua saturação. Não fosse a penalização da reforma antecipada ser tão grande, diz-me ela que já «mandava tudo às urtigas». Reconheci que os tempos são cada vez mais difíceis e adiantei que a formação pedagógica que proporcionaram aos professores não os preparou para, nem previu, minimamente, as dificuldades reais que encontraram. Contrapôs ela que «não fomos ensinados para lidar com tal gente e ainda bem que não fomos”, porque não crê que «fosse algo com que que devamos aprender a lidar». Sentindo a sua dor, optei por não a contrariar. Que adiantaria dizer-lhe que era ilusória a «ciência pedagógica» mais ou menos fundada em virtudes angelicais do género humano, aplicada a tenras crianças, que havia de traduzir-se em lamentável estímulo à sua deseducação, multiplicada e propagada contagiosamente de umas para outras, para mais numa sociedade (educativa) mutável, cuja evolução ninguém foi capaz de prever?
A sociedade abandonou os seus professores. As universidades que os diplomaram não têm orgulho nem confiança neles. O ministério da educação trata-os como incapazes. As direcções das escolas representam o ministério: veja-se que, em tempos relativamente recentes, quando muitos pais foram à escola bater em professores, que não podiam defender-se, a primeira coisa que acontecia a esses professores era instaurarem-lhes um processo; por outro lado, quantos dos agressores foram responder a tribunal?
Os professores estão envelhecidos, muitos deles doentes e sós. E têm consciência aguda desse facto.
Num quadro assim, quais poderiam ser as expectativas dos alunos em relação à escola e aos professores?
Por tais razões, «cansada, farta e frustrada», a minha amiga não tem «dúvidas de que estamos a reproduzir os desprovidos de neurónios» (…), pelo que «não prevê bom futuro para a espécie humana».
Referi o caso da minha amiga apenas como exemplo concreto. Suponho que poderia multiplicá-lo pela maioria do corpo docente. Desde os que tentam animar-se aos que mete(ra)m atestado médico “preventivo” e aos que vão para a escola tão acabrunhados que mal o confessam.
A realidade é a que é.
Porque não queremos vê-la?
José Batista d’Ascenção
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