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Aproxima-se o fim do primeiro período, que teve início em meados de Outubro. O aumento do número de casos de «covid 19» fez com que alunos isolados ou grupos de alunos ou turmas inteiras ficassem em casa, em isolamento, vários dias, numas alturas uns, noutras alturas outros, e às vezes todos. As escolas não estavam (bem) equipadas (nem estão) para se fazer bom ensino à distância, o mesmo acontecendo na casa de muitos alunos, pelo que se foi fazendo o possível, entre sessões «on-line» e aulas presenciais ou usando câmaras nas salas de aula fazendo, ao mesmo tempo, ensino presencial e à distância (neste caso com sérias limitações quando, para além do projector, se tinha de fazer uso do quadro de escrever à mão).
Como o fim da pandemia não vai ser resolvido nos meses imediatos, e estas perturbações vão continuar (não obstante o treino forçado nas improvisações, que resolve algumas delas), já não há dúvidas (no meu espírito) de que este é mais um ano lectivo comprometido.
A estas dificuldades somam-se outras, algumas delas cada vez mais comuns no nosso país. Aquando do início das aulas, achei curiosa a variedade de nomes ou apelidos com que não estava familiarizado, de alunos inscritos nas minhas turmas, tais como: Yago, Kubijan, Nicholas, Maggio, Alejandro, Cuberos, Sadowski, Ioannis, Nikolaos, Kokkinovrachos, Monferrari, Kailany, Aiko, Horaguti, Utsunomya, Matheus, Alyssa, Tiffany, Porelli, Worsnup. E se alguns deles têm conhecimentos de base, capacidade e organização para fazerem um bom trabalho, outros, ainda que com vontade, estão em situação de inferioridade. Na realidade, há entre estes meninos quem nem sequer consiga ler minimamente bem.
Para além disto, surpreende-me a prática, que a lei permite, de os alunos da mesma escola pedirem com toda a facilidade para mudar de turma, a todo o momento. No fim de Novembro, dois meses e meio de aulas decorridos, recebi mais dois. Segundo alguém me disse não estariam satisfeitos com as classificações dos primeiros testes entretanto realizados nalgumas das disciplinas que frequentavam. E vá de trocar de turma, iniciando outras disciplinas a que não sabem se vão conseguir melhores resultados, tanto mais que já perderam cerca de um terço das aulas possíveis este ano. Não sei se isto corresponde a algum entendimento do que seja a flexibilidade curricular, mas não era mau que os alertassem para os efeitos indesejáveis que possa haver, até nas boas classificações que muitos alunos perseguem, com toda a legitimidade, aliás, desde que de modo sério e responsável.
Problema maior ainda é o que se está a passar com o ensino dos meninos do ensino básico, particularmente aqueles que têm menor rendimento escolar (a maior parte deles provenientes de famílias pobres). Creio que por causa das estatísticas “positivas” que é preciso fornecer à OCDE, há uma enorme pressão sobre os professores, no sentido de que todos os alunos devem passar, o que em si não é mau, mas que leva a que os docentes atribuam generalizadamente “níveis positivos” (e tendencialmente altos), como se o rendimento fosse efectivo. O problema é que não é, e todos sabemos disso. Creio igualmente que esta situação se relaciona com uma forte oposição à realização de exames, porquanto todos sabem também que aqueles meninos estão (frequentemente) muito (senão completamente) impreparados. Ora, não temos o direito de nos iludirmos nem de enganar os alunos. Devia afirmá-lo o governo, os professores deviam exigi-lo como princípio e os institutos pedagógicos e os que têm o título de especialistas de educação não deviam olhar para o lado nesta matéria.
Já os encarregados de educação, esses talvez continuem a não exigir nada, porque, mais focados nas classificações dos seus educandos, parecem alheios à gravidade do problema.
Em consequência, perde o país e perdemos todos.
José Batista d’Ascenção
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