sábado, 12 de novembro de 2016

A passo de caracol, as aulas, os testes, etc.

Atingimos aquela altura do período lectivo em que o cansaço começa a fazer-se sentir de modo mais intenso nos professores: a preparação das aulas, a elaboração de testes e, sobretudo, a sua correcção começam a fazer mossa. Faltam energia e paciência e sobra fadiga. Nota-se cada vez mais o envelhecimento do corpo docente. O número de tempos no horário, aprisionando os professores às escolas, é substancialmente maior nos tempos que correm, mesmo para os que já ultrapassaram 35 anos de serviço, do que quando se iniciaram na profissão: 22 tempos de 50 minutos, então, contra 27 tempos de 45 minutos agora. A isto acrescem as horas de reuniões por tudo e por nada: planificações, “articulações”, “supervisões”, avaliações intercalares, entre outras… As consequências são devastadoras. Os alunos, cada vez com maiores doses de energia indisciplinada, “educados” nas redes sociais, vêem os professores como velhos mais ou menos desactualizados, desacreditados, senão mesmo inúteis, formando deles uma imagem pouco favorável, que os pais, sem mão nos filhos, interiorizam e reflectem na sua relação com a escola e com os docentes, quem sabe se para se compensarem com o sentimento de que são cumpridores dos deveres de protecção parental. Da parte das estruturas do ministério, da inspecção escolar e dos centros de formação (em geral), os professores recebem a mesma ausência de identificação, de apreço, de apoio e de estímulo, o que os leva a viverem no limite da solidão que apenas partilham com os seus pares, quando o ambiente nas escolas o permite, o que ainda acontece em muitas, felizmente.
Daqui ao desalento é um passo. Ninguém ignora que grande parte dos professores frequenta o psiquiatra e se procura aguentar com ansiolíticos. E um número não pequeno fica em casa, devido a incapacidade por motivo de doença.
Não vale a pena iludir a realidade. Assim como não vale admitir que as crianças estão “estragadas” e, muito menos, que a “culpa” é delas. Mas que as famílias, e a educação que (não) dão aos filhos, e as escolas, e o ensino que (não) ministram, estão gravemente doentes, isso parece indiscutível. Sem o admitirmos não conseguiremos mudar nada. E não podemos deixar de melhorar alguma coisa. Muita coisa…

José Batista d’Ascenção

2 comentários:

  1. Um retrato triste, mas muito verdadeiro, da nossa profissão!

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    1. Havemos de fazer o possível por não submergir nos aspectos menos bons da nossa tão nobre profissão, Teresa. Mas às vezes custa muito...
      Obrigado por ter vindo até aqui e por deixar a sua opinião, que muito prezo.
      JB

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