Não há maior prémio para um professor do que sentir os alunos com vontade de aprender nas suas aulas. Ver um brilhozinho nos olhos de quem aprende, porque entendeu o que se pesquisa ou o que é exposto ou explicado e porque sente prazer em ter aprendido, dá a quem é professor uma satisfação sem igual. Porém, uma tal circunstância torna-se cada vez mais rara, não porque não haja quem queira saber mais e se esforce por isso, e tenha gosto no resultado desse esforço, mas porque é muito improvável que possa verificar-se numa mesma aula envolvendo a totalidade dos alunos presentes.
Mas não é impossível que aconteça, felizmente. Foi o caso de que beneficiei na manhã do passado dia 14 de Novembro, segunda-feira. Fazendo a introdução ao estudo da gravimetria numa turma de décimo ano, matéria em que nunca tinha conseguido a participação atenta e interessada de todos os alunos de uma mesma turma durante toda a aula, notei tão boa receptividade que, em tom humorístico, disse aos alunos que, se me pedissem muito, lhes explicava como Eratóstenes, sábio da Grécia Antiga, que viveu nos séculos III e II antes de Cristo, calculou de forma assaz elegante o perímetro e o raio da Terra. Com igual sentido de humor, responderam os alunos com um delicado e formal pedido de explicação, rematado com um distinto “por favor”.
Foi então que, sem projecção de imagens auxiliares (o projector tinha a lâmpada fundida…), só com caneta e quadro, relembrando pequenas noções básicas de geometria, esquematizando e dialogando com eles, encontrámos, com base no raciocínio de Eratóstenes, o valor (muito) aproximado do perímetro da Terra, depois o do seu raio, de seguida o seu volume e, por fim, dado o valor da massa, chegámos ao valor da densidade média da Terra. E o quadro encheu-se de esquemas e fórmulas de que eles não despregavam os olhos, nem a atenção, nem afrouxavam a colaboração, fazendo as contas, calculando e indicando os (sucessivos) resultados. Foi um contentamento. Perguntas dirigidas a uns e a outros, em nenhum caso detectei dúvidas. Que tinham percebido, porque é fácil, disseram. Quis saber se também achavam interessante e bonito. Pois claro que achavam, voltaram a dizer. Agradeci-lhes e felicitei-os.
Tenho que confessar, porém, que a turma estava em desdobramento, metade desde as 08.20 horas até meio da manhã e a outra metade do meio da manhã até às 13.15 horas. Assim mesmo, e uma vez que no segundo turno a reacção e os resultados foram idênticos aos do primeiro, o prazer foi imaculado naquela manhã, que passou sem que se notasse o tempo. Aconteceu e eu fui testemunha vivencial. Por ser verdade, sob palavra de honra, e sem qualquer presunção ou bazófia, aqui se regista.
Nesse dia, o almoço, uma comida banal e de recurso, soube-me particularmente bem e no resto da tarde não dei pelo cansaço habitual.
Aos meus alunos do 10º E reafirmo felicitações e agradecimento.
José Batista d’Ascenção
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