sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Quando uma aula corre bem…

Não há maior prémio para um professor do que sentir os alunos com vontade de aprender nas suas aulas. Ver um brilhozinho nos olhos de quem aprende, porque entendeu o que se pesquisa ou o que é exposto ou explicado e porque sente prazer em ter aprendido, dá a quem é professor uma satisfação sem igual. Porém, uma tal circunstância torna-se cada vez mais rara, não porque não haja quem queira saber mais e se esforce por isso, e tenha gosto no resultado desse esforço, mas porque é muito improvável que possa verificar-se numa mesma aula envolvendo a totalidade dos alunos presentes.
Mas não é impossível que aconteça, felizmente. Foi o caso de que beneficiei na manhã do passado dia 14 de Novembro, segunda-feira. Fazendo a introdução ao estudo da gravimetria numa turma de décimo ano, matéria em que nunca tinha conseguido a participação atenta e interessada de todos os alunos de uma mesma turma durante toda a aula, notei tão boa receptividade que, em tom humorístico, disse aos alunos que, se me pedissem muito, lhes explicava como Eratóstenes, sábio da Grécia Antiga, que viveu nos séculos III e II antes de Cristo, calculou de forma assaz elegante o perímetro e o raio da Terra. Com igual sentido de humor, responderam os alunos com um delicado e formal pedido de explicação, rematado com um distinto “por favor”.
Foi então que, sem projecção de imagens auxiliares (o projector tinha a lâmpada fundida…), só com caneta e quadro, relembrando pequenas noções básicas de geometria, esquematizando e dialogando com eles, encontrámos, com base no raciocínio de Eratóstenes, o valor (muito) aproximado do perímetro da Terra, depois o do seu raio, de seguida o seu volume e, por fim, dado o valor da massa, chegámos ao valor da densidade média da Terra. E o quadro encheu-se de esquemas e fórmulas de que eles não despregavam os olhos, nem a atenção, nem afrouxavam a colaboração, fazendo as contas, calculando e indicando os (sucessivos) resultados. Foi um contentamento. Perguntas dirigidas a uns e a outros, em nenhum caso detectei dúvidas. Que tinham percebido, porque é fácil, disseram. Quis saber se também achavam interessante e bonito. Pois claro que achavam, voltaram a dizer. Agradeci-lhes e felicitei-os.
Tenho que confessar, porém, que a turma estava em desdobramento, metade desde as 08.20 horas até meio da manhã e a outra metade do meio da manhã até às 13.15 horas. Assim mesmo, e uma vez que no segundo turno a reacção e os resultados foram idênticos aos do primeiro, o prazer foi imaculado naquela manhã, que passou sem que se notasse o tempo. Aconteceu e eu fui testemunha vivencial. Por ser verdade, sob palavra de honra, e sem qualquer presunção ou bazófia, aqui se regista.
Nesse dia, o almoço, uma comida banal e de recurso, soube-me particularmente bem e no resto da tarde não dei pelo cansaço habitual.
Aos meus alunos do 10º E reafirmo felicitações e agradecimento.

José Batista d’Ascenção

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