Há quem, sem condições, se esforce quanto pode;
e quem, com boas
condições, se recuse a esforçar-se
o que devia.
Imagem colhida aqui.
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Em qualquer tempo, em qualquer lugar, há obrigações a que a Escola não pode eximir-se. As crianças, com alimento básico, roupa que vestir e tecto que as acomode mais ou menos confortavelmente, têm direito à frequência de ensino que as deve estimular e preparar para:
- compreenderem perfeitamente a língua materna (ancorada nas suas raízes…) e usá-la com proficiência, pelo que deve ser ensinada com empenho e rigor e… entusiasmo;
- conhecerem e compreenderem a sociedade e as suas origens, começando pela comunidade de pertença, para bem se integrarem, o que implica estudar história;
- aprenderem pelo menos uma língua estrangeira, para melhor comunicarem com o mundo, poderem viajar, adaptar-se a outras culturas e nelas, eventualmente, poderem viver e trabalhar;
- saberem raciocinar, questionar-se e questionar os outros, as instituições e as normas vigentes, o que não dispensa noções de filosofia e enquadramento em valores éticos pessoais e sociais;
- entenderem e apreciarem o funcionamento do mundo natural e dos mecanismos que lhes são intrínsecos, o que remete para conhecimentos básicos de ciências geográfico-naturais (geografia, biologia e geologia) e físico-químicas, as quais, suportadas no conhecimento matemático, permitem compreender os fenómenos regulares decorrentes das leis físicas que regem o planeta e o universo a que pertencemos;
- desenvolverem o gosto e a sensibilidade pelas artes: visuais, musicais ou outras;
- concretizarem com prazer a ideia de um corpo são com mente sã, através da prática de exercício físico e desporto.
Para além das áreas (mais ou menos) disciplinares apontadas, a Escola devia ainda ter como fundo um grande apego aos valores universais de cariz humanista e às grandes realizações culturais da humanidade, em quaisquer áreas: literatura, pintura, escultura, música, etc., etc.
Podendo e não cumprindo as funções referidas, a Escola peca por negligência.
Mas poder-se-ia pedir isso tudo à Escola?
Em países minimamente desenvolvidos poderia, e não era pedir-lhe demais. Se lhe dessem as devidas condições. Se a Escola servisse para ensinar crianças, como devia servir, mediante a acção dos professores, que para isso foram (ou deviam ter sido) formados. Se fôssemos capazes de delimitar campos de responsabilidade, e se fossem muito bem definidas as funções que a Escola, mesmo que queira, não sabe nem pode desempenhar: acção social (condições de habitação, de alimentação, vestuário, acompanhamento da deficiência profunda, higiene sanitária), serviços de saúde (bem estar psicofisiológico, cuidados de prevenção básicos, tratamento da doença) e apoio psicológico em casos particulares (famílias desestruturadas, problemas de saúde mental, integração de emigrantes, emergências derivadas de catástrofes ou infortúnio, etc.). Se fosse assim, creio que os professores, pela sua parte, e na sua área, estariam à altura, e poderiam e gostariam de ser postos à prova. Mas seria pedir muito, eu sei.
Entre nós, nas condições existentes, lamentavelmente, para além daquela minoria de crianças e jovens que (cor)respondem bem, apesar das insuficiências do sistema escolar, em relação à maior parte dedicamos-lhe uma atenção tão pouco cuidada e ineficaz quanto o zelo com que tratámos as nossas florestas ao longo dos últimos quarenta anos.
Gostaria de morrer sem assistir a consequências mais penosas (ou dramáticas, para as pessoas e para o país), derivadas em parte do modo como crianças e jovens fazem o seu percurso – e o seu “crescimento” - escolar, do que aquelas de que vou tomando conhecimento ou a que provo diariamente o amargor do sofrimento: veja-se, por exemplo, o que tem sido a acção (e os diplomas académicos e a impunidade) de muitos dos nossos (não muito idosos e bastante malformados) políticos…
José Batista d’Ascenção
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