domingo, 15 de outubro de 2017

Os alunos que tenho a sorte de ter este ano lectivo

Imagem obtida aqui.
Fez ontem um mês que se iniciaram as aulas. Já conhecia a quase totalidade dos meus alunos desde o ano passado. Conhecer os alunos com quem se trabalha é sempre um factor positivo e, no meu caso, um privilégio (de que não podem beneficiar os meus colegas que frequentemente saltam de escola em escola, atirados, por vezes, para lonjuras incríveis dos locais em que viviam e/ou trabalhavam, como aconteceu com os miseráveis concursos do último Verão).
Este ano sou um privilegiado, repito, e digo porquê: os meus alunos são gente boa, pessoas bem formadas que os pais (que eu não conheço…) educaram como deve ser. É um conforto lidar com jovens humildes, simpáticos, disponíveis e (quase todos) trabalhadores. Para além de mim, e muito antes de mim, mais pessoas lhes devem ter dito que a escola, mesmo (muito) imperfeita, como é, é uma oportunidade de oiro para se prepararem para a vida, para uma profissão (qualquer que seja), para o desempenho da cidadania e, muito importante, é também, especialmente para os mais pobres, a melhor via de melhorarem a sua condição social, ficando em Portugal ou procurando o estrangeiro, como tantos têm feito nos últimos anos (e ainda bem para eles).
Para além do empenho, enquanto dever estrito de cada aluno, é um conforto, para qualquer professor, a sensibilidade (logo que se aperceberam do pormenor de o professor não gostar de apagar quadros – há quem não goste, deste os tempos do giz de cal – este ano há sempre alguém, discretamente lesto, a poupar-lhe esse trabalho), a atenção (uns - bastantes - às matérias de estudo, durante e após as aulas, e todos a pequeninos gestos que tornam a convivência doce: dar conta, solicitamente, de algum pedido feito no fim da aula anterior, dirigir um olá ao professor distraído que segue pelos corredores, apanhar os papéis caídos no chão, não se esquecer de arrumar a cadeira sob a mesa no final de cada aula, etc.), a delicadeza e a amabilidade dos alunos (visíveis na forma como aguardam a entrada na sala, se relacionam uns com os outros e saúdam o professor que chega ou o modo como dele se despedem quando a aula finda, bem como a atitude no decurso de cada lição). Isto é o que devia ser normal e, por esse motivo, dispensar referência. Acontece que é também por essa razão que (infelizmente) deve ser referido.
Há, obviamente, as partes de que não gosto e que é preciso melhorar (e só restam oito meses para isso…). Um dia destes um grupo de vários alunos não fez o trabalho de casa - sim, há professores que não abdicam do trabalho de casa dos alunos, e não é para mal deles -, depois de decorrido tempo suficiente para o terem feito. Foi um desgosto (autêntico, sofrido) com fúria consequente (claramente transmitida, no momento), que teve efeito positivo concreto na maior parte deles (não em todos…). Eles próprios transmitiram (antes de mim) a falha à directora de turma que não os poupou ao correctivo merecido, que aceitaram bem. Cabe aqui realçar o bom trabalho dos directores de turma dos meus alunos deste ano, os quais ouvem com respeito e sem submissão os encarregados de educação, facilitando, e muito, a tarefa dos próprios pais e a dos professores e contribuindo para a boa formação e o melhor rendimento possível dos alunos. A eles, como aos pais dos meus meninos, também estou grato.
Outra coisa de que não gosto é que qualquer dos meus alunos não apresente alguma dúvida porque dá trabalho a explicar de novo ou - tenho essa impressão às vezes - para não “desgostar” o professor que já a explicou ou pediu a alguém que a explicasse mais que uma vez. Inaceitável é igualmente que algum aluno deixe de perguntar porque lhe dá trabalho a ele próprio a aprender…
Por isso, este ano, este pobre professor sofrerá mais ainda do que o costume caso algum aluno chegue ao S. João sem aproveitamento. Cada “nota” menos boa será (sentida como) uma “nota” má atribuída a si próprio e ao seu trabalho. Por consequência há que recorrer a todos os meios honestos e legítimos para evitar essa situação. As aulas de apoio são (mais) uma boa altura para esclarecer dúvidas e fornecer as explicações necessárias. Não faltará tempo, se não faltar a vontade.
Pelo menos da parte do professor e, seguramente, da maior parte dos alunos.
Obrigado.

José Batista d’Ascenção

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