sábado, 2 de junho de 2018

A realidade do ensino e a acção dos professores que dão aulas - 7 motivos de esperança

Retrato recente e actual de uma realidade
 que amanhã devia ser longínqua
1. As crianças portuguesas de hoje, como as crianças de sempre, portuguesas ou de qualquer país, têm qualidades e capacidades que, por comparação, não estão diminuídas. Se a «matéria-prima» nunca teve mais talento e temos agora mais recursos e condições (materiais e humanos, como se diz), então podemos (e é nosso dever) conseguir (muito) mais e melhor rendimento.

2. Em Portugal, a escolaridade obrigatória é agora para todas as crianças e jovens até ao 12º ano de escolaridade. E ainda bem. Sendo o universo tão amplo, necessariamente teremos (sempre) uma fracção de alunos bem preparados. Isso é auspicioso, naturalmente, sobretudo se não nos fizer esquecer aquela faixa imensa que fica mal (ou muito mal) preparada, convencida de que sabe e enganosamente certificada.

3. Nas universidades e fora delas há pessoas de alto gabarito que olham para a escola básica e secundária e não só se disponibilizam a colaborar com os professores e a apoiá-los cientificamente como trabalham e intervêm arduamente em defesa de uma escola que ensina e prepara, sem inflar obscenamente o ego e a vaidade das crianças e sem lhes encher a cabeça de lixo e de predisposição para a falta de respeito (por si e pelos outros) e para o incumprimento dos deveres (faltar às aulas, não fazer os trabalhos, copiar, exigir classificações sem saber, etc.).

4. Não é impossível que um dia ocupe o vértice do sistema escolar alguém que tenha pela Educação aquele apego e vontade e engenho que Mariano Gago tinha pelo ensino das ciências experimentais. E nessa altura, sem embarcar em «ilusionismos» de «pessoas providenciais», talvez não sejam precisos muitos anos para que muito possa mudar no sistema de ensino, com enorme proveito das crianças, da sociedade e do país. Esse sonho e esse desejo (pelo menos) não são proibidos.

5. Também não é impossível que os professores do ensino básico e secundário, algum dia, percam o «medo de existir», e passem a não calar o que lhes parece e está mal e é injusto ou ilegal (sem precisarem de dizê-lo aos gritos) e falem menos em vencimentos baixos (até por ser inútil) e em «fugas» para a reforma (porque todo o tempo é tempo de ser professor e há o direito a sê-lo com satisfação). E com a plena consciência de que o seu papel é imprescindível.

6. Não é impossível, por outro lado, que aqueles que foram alunos responsáveis e, de entre eles,  aqueles que há poucos anos tiveram que emigrar e conhece(ra)m outras realidades e vão voltar ao país, mais alguns que têm consciência da sua preparação escolar deficiente e por cá ficaram, com pena de ambos os factos, engrossem a faixa da população da geração seguinte que vai exigir e lutar por uma escola que funcione, que respeite e que seja respeitada. É legítima neste aspecto uma enorme esperança, que, aliás, resgataria a escola de hoje, provando que não é - não está a ser - inútil.

7. Os milagres não existem, mas acontecem, por vezes. Especialmente quando nós os queremos muito e não desistimos de trabalhar para isso. Ora, podem não estar longe os dias em que os portugueses sentirão a necessidade de uma escola digna do nome, como precisam e merecem.
Nessa altura, tê-la-ão.

José Batista d’Ascenção.

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