quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Não há forma de aprender sem estudar e/ou praticar

Fonte da imagem: aqui.
Quando eu era menino e me levaram à escola, era pressuposto que me esforçasse, prestasse atenção e estudasse diligentemente, para (poder) aprender. E se (eu) não o conseguisse, e não houvesse razões de saúde, a culpa seria exclusivamente minha: por preguiça ou burrice ou ambas.
O paradigma, longe de ser perfeito, mudou. Mudou mas perdeu definição, com a prática a deixar de incluir alguns aspectos que não eram maus e a contemplar outros que nem sempre são bons.
O ser humano é, de todos os viventes animados, o que leva mais tempo a aprender a sobreviver. E não seria natural que aprendesse sempre de forma lúdica e antecipadamente aprazível, mesmo na infância, quando o tempo de brincar assume grande importância. Nos restantes mamíferos também é assim. Mas, nas pessoas, para além dos progenitores e dos indivíduos “próximos”, genética e/ou socialmente, é necessária a frequência de algum tipo de escola. E nas escolas são necessários professores.
Quando me tornei professor (do ensino básico e secundário), os "azimutes" pedagógicos eram, portanto, outros:
- a memorização começara a ser diabolizada, como se não fôssemos memória e a pudéssemos dispensar;
- a exposição era "proibida" qual "crime de lesa-pedagogia", mesmo quando clara e oportuna e solicitada pelos alunos;
- aos professores passou a caber "estimular, orientar, apoiar e acompanhar" os alunos, mas não  "explicar", ao mesmo tempo que, por fora, eram solicitados a "dar explicações" a troco do correspondente e devido (quando merecido) pagamento;
- aos alunos deviam ser dadas (todas) as condições para construírem o (próprio) saber, como se fosse possível ou desejável "inventar a roda n vezes por dia", passando a História das Ciências a coisa distante, ilustrativa e facultativa, até para não sobrecarregar a memória;
- os professores em exercício passaram a ser tudo: pais, psicólogos, "tutores", amigos, confidentes, menos figuras institucionais de referência e autoridade: no saber, na ética, na cidadania e no desempenho, aceitando o que nunca deviam ter permitido: deixar de ser professores. E na ânsia de agradar, seguiram todas as correntes e "modas" pedagógicas, perseguindo o "modelo perfeito", que não existe, frustrando-se cada vez mais, ante a indiferença, e não raro a desconsideração, de grande parte dos alunos;
- a responsabilidade pelo insucesso (de alastramento previsível até à necessidade de mascaramento) passou a ser assacada ao professor, que deve ter planos que o prevejam, outros que o detectem e ainda outros que o remedeiem. As crianças, como os seus pais, passaram a vítimas do dito insucesso, resultado da ineficácia da escola, de frequência obrigatória, às mãos e por causa dos professores. Que outros responsáveis poderia haver?
Tais estão as coisas que, hoje, na escola pública, os alunos, perante um corpo docente envelhecido, humilhado, desacreditado e descrente, fazem e dizem (mais ou menos) o que querem, com prejuízo sério da aprendizagem da maioria deles. Tudo tem que ser estimulante, vistoso, interactivo, sonoro e movimentado, em detrimento do silêncio, da reflexão, da moderação, da discrição, da generosidade, da persistência, do trabalho e da paciência. Campeiam a aversão, o desprezo ou mesmo o ódio ao livro e à leitura, assumidos com orgulho. E só uma minoria de alunos combina harmoniosamente o esforço (prévio) para aprender com o gosto (posterior) de ter aprendido.
Como os principais "activos" de um país para o futuro são (sempre) as suas crianças, não é crível que, em Portugal, estejamos a aproveitar como devíamos o mais promissor dos investimentos.
Também há alunos bem preparados? Também, mas o problema não está nesses.

José Batista d’Ascenção

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