terça-feira, 28 de julho de 2020

Uma escola amiga das árvores

Estas e outras árvores frondosas envolvem uma escola
 de grande dimensão - A Escola Secundária Alberto Sampaio
Há anos que ando para escrever isto: A Escola Secundária Alberto Sampaio, em Braga, é uma escola verdadeiramente amiga das árvores. Outras – não tantas como seria desejável – o são também, é verdade, mas a “Alberto Sampaio” é-o mais que todas as que conheço.
Aquando da remodelação física das escolas, no início da década, os seus professores, julgo que por acção particular dos de biologia e geologia, empenharam-se em exigir que as árvores não fossem derrubadas. E conseguiram. E plantaram ou semearam mais. Desde então, os espaços com plantas, confinados no interior dos edifícios ou no exterior deles, estão muito bem (talvez se deva dizer: carinhosamente) cuidados.
Nesta matéria, a “Alberto Sampaio” é uma lição efectiva para os alunos e, por extensão, para toda a comunidade educativa, para as outras escolas, para os bracarenses em geral e, tomara eu, para o executivo da Câmara Municipal, especialmente nas áreas do urbanismo e do ambiente. Por maioria de razão, podia também ser um exemplo para o país, se o país conseguisse ver e valorizasse o que se faz de bem nas (suas) escolas.
Pelo que, com um sentimentozinho de “inveja”, publicamente felicito e agradeço.

Nota: Sei que há outras valências muito acarinhadas e com bom desempenho na Escola Secundária Alberto Sampaio. Neste apontamento limitei-me ao que se me impõe, repetidamente, quando ali vou levantar e entregar provas de exame. 

José Batista d’Ascenção

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Exames nacionais (especificamente o de biologia e geologia) – caricatura ou retrato?

Quando, na tarde do passado dia dezassete deste mês de Julho, me pus a resolver a prova de biologia e geologia, senti que estava perante uma caricatura de exame:
- pelo carácter desconcertante de algumas perguntas (a que agora se chama itens);
- pelo grande número de questões que podem ou não contar para a classificação final da prova, consoante as cotações obtidas (sendo consideradas as mais altas);
- pelo facto de todas as respostas a todas as questões valerem o mesmo (oito pontos), sejam de opção, de resposta curta (ou curtíssima) ou de (algum) desenvolvimento;
- pelos critérios de classificação estipulados para algumas das respostas.
Um exame assim não avalia o mesmo em todos os alunos e não é coerente com os exames (também eles sofríveis, por razões diferentes, na maior parte dos casos) realizados em anos anteriores.
E ressalta um aspecto (tristemente) notável: a pandemia do novo coronavírus foi um factor de sucesso (como admiti aqui), pois que:
- fez com que as classificações internas das escolas não baixassem ou sofressem mesmo algum acréscimo;
- elevou as «notas» de exame (pelo menos as do exame de biologia e geologia, a avaliar pela opinião de professores que estão a “corrigir”).
Donde resulta que:
- tendo-se ensinado menos, porque em piores condições, face aos constrangimentos havidos;
- e tendo os alunos sido afectados na aprendizagem, pelas mesmas razões;
afinal, os resultados serão… melhores!
Em consequência, afigura-se-me que as classificações do exame de biologia e geologia da primeira fase de 2020, são um retrato exactíssimo do estado a que o ensino chegou.
Coerentemente, em Setembro haverá mais.
Com que credibilidade?

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Exames nacionais e ortografia

Imagem obtida aqui.
Não é prática minha (nem aprecio) a exibição de erros dos alunos, por acreditar que tem muito mais valor pedagógico a exploração de tudo aquilo que fazem bem. Porém, o abandalhamento das regras da gramática e da ortografia, que impede que muitos compreendam o que lhes é dito e o que (em certas situações) são obrigados a ler, não me permite ficar indiferente à quantidade e ao teor de erros que detectei em metade das menos de três dezenas de exames (de biologia e geologia) que fui chamado a “corrigir”. Erros da mesma natureza em palavras da mesma família li-os em provas de alunos diferentes. Alguns erros são comuns a vários alunos. Não assinalei as falhas (muitas) de acentuação de palavras, que não poucos alunos desprezam. Antiquadamente (e inutilmente) sublinhei a vermelho os erros de que me apercebi, mas é quase certo que não o terei feito em todos os casos, tantos eles são. Eis aqueles de que me lembro, por ordem alfabética:

Abituam-se (habituam-se)
Agreciva (agressiva)
Ascenção (ascensão)
Boracos (buracos)
Bromitol (bromotimol)
Casou (causou)
Conclui-o (concluo)
Devesse (deve-se)
Dissipa-se (dissipasse)
Enfrantar (enfrentar)
Erudiu (erodiu)
Erusiva (erosiva)
Estam (estão)
Experência (experiência)
Explusiva (explosiva)
Extenção (extensão)
Fize-se (fizesse)
Hestorial (historial)
Hidrogenocarboneto (hidrogenocarbonato)
Houveram trocas (houve trocas)
Iram fazer (irão fazer)
Irá-se (ir-se-á)
Obcuridade (obscuridade)
Ocorreu diversas… (ocorreram diversas…)
Ouve (houve)
Ouve-se (houvesse)
Passa-se (passasse)
Percipitam (precipitam)
Planice (planície)
Pusturas (posturas)
Se deposita-sem (depositassem)
Teram (terão)
Tranvertino (travertino

Também não atendi ao desprezo tornado comum (nas redes sociais, na TV, nos jornais e... nas escolas!) pelas preposições, nem à incongruência de certas frases do tipo “uma placa tectónica mergulhar sobre outra”.
O próprio enunciado de exame leva longe demais as tendências fomentadas pelo chamado «novo acordo ortográfico» quando escreve «zonas de subdução» (página 12), com prejuízo imediato da correcção fonética. Admito “evoluções” subsequentes do termo, receando que passe (também) a ser grafado com “ésse” dobrado. Por mim, continuarei a escrever e a pronunciar “subducção”.
Pensamos com a língua em que nos expressamos, suponho.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Trump e nós

Hoje, no jornal «Público» (página 9 da versão em papel), Santana Castilhho, escreve:


«Um Trump qualquer apreciaria muito este Ministério da Educação, pela regressão mental que promove, transformando aulas em entretenimento e exames em charadas de cruzinhas. Aconselhar injecções de lixívia para curar a covid-19, ou usá-la para branquear os resultados da “flexibilidade curricular” e das ”aprendizagens significativas”, [creio que se refere às designadas "aprendizagens esseciais"] equivalem-se no disparate.»



Infelizmente, não me resta outra possibilidade que não seja a concordância.

José Batista d'Ascenção

quinta-feira, 16 de julho de 2020

O «sistema educativo» bipolar, que (sabe que) ensina mal, mas tenta lavar a cara aplicando afanosamente o verniz de rigor dos questionários do iave

Imagem obtida através da Google.
Com a indicação de «esgotado», aqui.
Desde meados de Março, a escola básica e secundária funcionou nas condições que conhecemos, com (muito) mais deficiências (ainda) do que anteriormente. A escola não presencial, de professores e alunos, simplesmente, não é escola nenhuma, o que não impede, naturalmente, formas eficazes de aprendizagem à distância, em certos casos, cumpridos que sejam os requisitos necessários: espaços adequados nas habitações, dispositivos tecnológicos capazes, bom ambiente afectivo nas famílias, competência digital de professores e alunos, pelo menos. Essas condições, sabemo-lo bem demais, não contemplam um enorme conjunto de alunos e a totalidade dos docentes. Por tais razões, improvisou-se o que se pôde, com boa vontade e generosidade, mas longe da eficácia que todos desejariam.
Terminadas as aulas e feita a avaliação interna das escolas, os resultados afixados aparentemente não traduzem descidas apreciáveis, quem sabe se porque automaticamente se consideraram as dificuldades sentidas como estímulo para «compensar» as classificações. Nessa medida, será curioso apurar se os resultados quantitativos, em si mesmos, não serão mesmo superiores aos dos anos imediatamente anteriores. Note-se que não se faz aqui qualquer defesa da penalização dos alunos. O que se quer realçar é a justeza da medida com que se avaliam as aprendizagens e, concretamente, escrutinar se, quando, com toda a probabilidade, se aprendeu menos e pior, as «notas» obtidas foram, afinal, «melhores». Tem interesse este aspecto porque faz luz sobre o papel da escola e o modo como ela mesma avalia esse papel, do ponto de vista daqueles que lhe exigem a obrigação estrita de fazer com que os alunos aprendam. Claro que há outras visões da escola. Legítimas, aliás. Porém, se os alunos não souberem nem forem capacitados, a escola, verdadeiramente, engana-os e trai a nobreza dos seus objectivos.
Os exames, bem feitos, obedecendo a programas também eles bem feitos, em respeito pelo trabalho dos alunos e dos professores, deviam ser algo de desejável, como medida externa imparcial das «aprendizagens essenciais». Em algumas disciplinas, como biologia e geologia, os questionários do iave (na sequência dos do gave) têm sido pouco perfeitos e não coerentes entre si ao longo dos anos, no grau de dificuldade e nos consequentes resultados. Este é um problema que não tem sido considerado e, por isso, continua por resolver.
No final deste ano lectivo, foi importante (a meu ver) termos regressado às aulas presenciais em disciplinas «nucleares», como se fez, na tentativa de conseguir alguma «normalidade» e como ensaio para o ano lectivo próximo. Mas os exames deviam ter sido suspensos. Far-se-iam quando fosse oportuno. E dispensar-se-iam definitivamente, nos casos em que as universidades se disponibilizassem para seleccionar os seus alunos, como deveria ser.
Nesta altura, improvisa-se o lançamento do novo ano lectivo com base na ideia clássica: exija-se aos professores e eles que se desembaracem.
O que eles, mais ou menos exaustos e envelhecidos, farão com diligência, embaraçando-se progressivamente nos desenrascanços do costume, com os resultados que mascararemos de algum modo, como também é habitual.
E temos ainda a vantagem de sabermos já quem são os culpados do que vai correr mal.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Ou matamos a burocracia ou matamos os professores e a escola

Imagem obtida via «google»: aqui.
Terminaram as reuniões de avaliação dos conselhos de turma de final do ano lectivo. O estado anímico e físico dos professores, particularmente dos que desempenham as funções de directores de turma, é preocupante.
As exigências, os requisitos e os procedimentos, traduzidos em grelhas, tabelas, gráficos ou planos, para além de justificações, apreciações e recomendações compõem um quadro desanimador, de consequências nefastas. E acumulativas. E para quê? Não poucas vezes para forçar estatísticas (de trazer por casa) que traduzam (a ilusão de) algum sucesso.
As escolas não têm, na realidade, qualquer autonomia. Os conselhos pedagógicos são uma espécie de comissões de burocracia, que os directores de turma aplicam e propagam. As direcções e toda a orgânica das escolas, professores incluídos, estão sujeitas à mesma engrenagem trituradora, habitualmente imposta mediante plataformas digitais. E os alunos não aprendem mais por isso.
Uma das razões por que as escolas privadas conseguem melhores resultados em exames deriva do treino intensivo dos alunos, o qual só é possível se as energias não se consumirem em projectos artificiais como são quase sempre os de sexualidade e de cidadania, por exemplo. Como se uma coisa e outra merecessem alguma preponderância especial, para além da normalidade que justificam.
Na voz lúcida do Professor Galopim de Carvalho, «os professores estão sobrecarregados com tarefas administrativas e outras de que deveriam estar rigorosamente libertos.» Fá-lo brilhantemente aqui, e não só defendendo os direitos dos professores como apontando as suas obrigações. Não conheço sobre a matéria palavras mais sábias nem mais sérias nem mais justas.
Depois, claro, haverá sempre uns «rankings» para mostrar como a «escola pública» cumpre mal a sua função.
E cumpre, infelizmente. Mas não apenas por culpa sua.

José Batista d’Ascenção