segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O meu reinício do ano lectivo

Esta não é a distância entre os alunos na generalidade das aulas

Os meninos que este ano me couberam vêm do (ensino) básico. Nestas primeiras aulas, por detrás das máscaras, percebi neles (naturais) expressões de expectativa, reparei em alguns (bastantes) olhos brilhantes e, de modo geral, constatei atitudes de interesse e de participação, bem como de cordialidade e simpatia, o que muito me agradou.

Ficaram surpresos com a minha proposta de tema (luta pela preservação das pegadas de dinossauro de Pego Longo – Carenque) a abordar em «cidadania», aparentemente pouco entusiasmados, é certo. Por isso convidei-os a comunicarem a minha sugestão aos pais, e fiquei a aguardar… Entretanto, trabalho para lhes conquistar a confiança e para os entusiasmar tanto quanto possível na disciplina. Para voltar àquele assunto em ambiente mais favorável. Mas, principalmente, porque o programa é extenso e diverso e, na parte de biologia, bem pouco lógico e coerente.

Da correcção da ficha de diagnóstico confirmo, repetidamente, ao longo dos anos, uma impressão antiga: a abordagem à geologia no sétimo ano de escolaridade faz-se de tal modo que mais parece uma vacina de rejeição injectada nos garotos. O menor dos males é não saberem coisa nenhuma, desde que não detestem aquela área do saber. Vejo nisto um problema real de que quase ninguém se ocupa. O resultado não é auspicioso.

Sobrepondo-se a este e a outros problemas, os meus temores nesta altura são recorrentes: Em quantos destes meninos não deixarei embaciar a vivacidade do olhar? Que proporção deles deixarei sucumbir ao apelo das hormonas e dos sentimentos nos tempos de aulas, já daqui por uns meses? Em quantos conseguirei melhorar a impressão menos boa que têm das matérias? E – terrível questão! – em quais deles poderei, eventualmente, reforçar as aversões que trazem?

Resta-me a consolação de saber que vou fazer o que posso. Para já, olho-os com ternura e sinto-os meus. Meus alunos. E de nenhum desistirei. Obrigo-me a esse privilégio, de que fica este registo.

A ver se sossego.

José Batista d’Ascenção

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