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Já a destempo, releio uma notícia do jornal «Público» de ontem, dia 15, na página 12, sobre o modo como uma escola (do Agrupamento de Escolas de Caneças), discutiu o que chamaram «Dia do Perfil do Aluno» (uma iniciativa promovida pelo Ministério da Educação e pela Federação Nacional de Associações de Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário), no sentido de discutir «o que pode ser feito para fomentar a aquisição de competências que devem orientar a aprendizagem». Esta iniciativa dá curso ao que foi proposto há cerca de um ano por um grupo de trabalho coordenado por Guilherme d'Oliveira Martins.
Segundo a notícia, uma aluna de 12 anos, a frequentar o 7º ano de escolaridade, que beneficia do «regime de flexibilidade curricular que a escola adoptou» refere que aquele regime é «algo que lhe agrada», embora afirme em forma de lamento: «apesar de estarmos sempre em grupos e haver gente que não trabalha…»
A experiência que decorre naquela escola, na opinião de um professor coordenador, revela «já aspectos positivos e negativos» (como não?), mas, segundo diz, «ainda é cedo para avaliar os resultados», sendo que «ainda se nota algum desnorte, tanto para os professores como para os alunos», adiantando que, quanto aos pais, «a maioria acha que faz sentido». Aquele projecto, visto com agrado pela Direcção daquele Agrupamento de Escolas, será para continuar no próximo ano, dando continuidade no 8º ano, e iniciando-o no 10º ano de escolaridade.
Desejo as maiores felicidades.
Na minha escola, que não adoptou aquele regime, não ouvi falar do assunto. Noutras escolas onde também decorre o mesmo projecto-piloto, a discussão havida ter-se-á limitado aos professores coordenadores e a um ou outro agente externo ligado ao processo.
Alguma coisa deve ser feita para melhorar o aproveitamento das crianças e jovens. Pelo meu lado, apenas desejo que não se ficcionem os resultados e que não se sucedam experiências, por norma não devidamente avaliadas, sem que nunca se sedimentem princípios e metodologias e práticas que se revelem fecundos, pelo menos em parte.
Para mim, a organização da sociedade e da escola penalizam sobretudo os filhos das pessoas (mais) pobres, que não podem e/ou não sabem aceder a apoios ou a acções (explicações, livros, museus, viagens…) para compreenderem o funcionamento da natureza e do mundo, nem têm influências sociais, nem heranças materiais que lhes facilitem a vida, em que vão vegetar como deserdados da sorte. Para estes meninos, que em Portugal são, talvez, a maioria, a escola tem deveres acrescidos, a que não pode eximir-se. Mas não é via admissível enganar estes alunos e os seus pais com metodologias que passam por cima do que é fundamental que aprendam ministrando-lhe barrelas facilitistas ou deixando-os à deriva, a fazerem coisa nenhuma, e forçando os professores a avaliá-los com notações positivas, como se tivessem competências que não atingiram. Isso é indigno. Antes a clareza da doença do que a mistificação miserável da cura, com fim trágico.
Na peça jornalística acima citada, uma menina de 12º ano da mesma escola afirma que «aquela iniciativa mostra que os miúdos mais pequenos têm uma voz que pode ser ouvida». Outra aluna defende que “os alunos têm mais a dizer do que as pessoas pensam”.
Não é difícil concordar: a voz dos alunos deve ser escutada, no que dizem e naquilo que nem sequer verbalizam e, muito particularmente, no que expressam e põe a nu as fragilidades, as falhas e, até, a hipocrisia dos adultos, assim como a sua (nossa) cegueira para enxergar coisas óbvias.
Enfim, não sobrou muito daquela notícia. Mas é o suficiente para eu me sentir grato às alunas que emitiram a sua opinião.
José Batista d’Ascenção
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