Notícias vindas a público, na rede e na pág. 14 da versão impressa do jornal «Público» de hoje, por exemplo, dão conta de perturbações que os exames nacionais estão a provocar nas escolas, sobretudo na promoção de «desigualdades sociais entre os alunos», onde o «grande beneficiário é o mercado de explicações» que a bolsa dos mais pobres não permite pagar. O estudo constitui a tese de doutoramento da «especialista em Administração e Políticas Educativas da Universidade de Aveiro», Andreia Gouveia.
Não sei se o estudo advoga o fim dos exames.
Pela minha parte defendo a realização dos exames nos finais do ensino básico e do ensino secundário, por razões que me dispenso de adiantar.
Mas, pensando no que se passa com os exames nacionais da disciplina de biologia e geologia do ensino secundário, concordo inteiramente que, tal como estão a ser elaborados, não constituem um factor benéfico da aprendizagem. Para que o fossem teriam que:
- respeitar os programas, especialmente no que determinam especificamente (claro que é desejável que os programas estejam bem elaborados e não é o caso, longe disso. Do de biologia de 10º ano, por exemplo, costumo dizer, para resumir, que mais parece ter sido feito para impedir que os alunos aprendam e que os professores consigam ensiná-los. Não percebo por que é que os programas da disciplina se mantêm assim, e receio que, quando os mudarem, ainda consigam pô-los pior. Gato escaldado…);
- ser muito bem elaborados, fazendo uso de linguagem clara, rigorosa e precisa, nos textos introdutórios e nas questões (o que nem sempre acontece);
- não recorrerem a jogos de palavras com carácter algo charadístico e a armadilhas dispensáveis, cuja detecção não revela nenhuns conhecimentos ou aptidões significativas dos alunos;
- evitar erros que nunca são aceites como erros e que os classificadores das provas têm que ignorar, funcionando de modo mecânico, na suposição - ilusória, a meu ver - de que o processo é uniforme e coerente.
Se os exames estiverem bem feitos, e tiverem apenas objectivos pedagógicos, não consigo vislumbrar em que é que eles podem ser causa de desigualdade social. O que eu gostava é que os exames não fossem (eventualmente) eliminados com o objectivo de esconder as desigualdades sociais que existem no acesso à educação e ao conhecimento, que é (ou devia ser) um direito de todos.
Não tenho nada contra as explicações (em que nunca ganhei um centavo/cêntimo), mas tenho tudo contra as más explicações.
E reconheço que exames difíceis (às vezes artificialmente difíceis) podem constituir um factor potenciador de negócios. A esse propósito, ocorre-me que é o próprio IAVE que também tem negócios editoriais nessa área, que apresenta ou public(it)a de modo curioso, como referi aqui.
Ora, se a escola cumprisse a sua função, as explicações deviam ser prestadas dentro dela (só que ali têm que chamar-se «apoio», e às vezes «apoio pedagógico acrescido», o que revela as nossas dificuldades em nomear a realidade…).
De resto, eu sempre supus que a Escola devia existir exactamente para isso.
José Batista d’Ascenção
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