Inicio este segundo período com uma curta reflexão, por enquanto em monólogo interior, e pensando nos meus alunos. Mas derramo-a à vista de todos, para que, esquadrinhando-a, mais se salientem os pontos fracos, que é preciso resolver, e mais me aproxime das soluções a encontrar. Que isto de ter alunos é abraçar uma luta que nunca está ganha, uma porfia em alcançar certa luz que, por mais que se queira, deixa sempre algo no escuro da percepção, do entendimento, da compreensão e do estímulo de que resultam o afecto e a confiança que tornam profícua ou comprometem, às vezes definitivamente, a interacção pedagógica. Se o professor e o(s) aluno(s) não remarem na mesma direcção, com objectivos comuns, é mais ingrato o papel de um e do(s) outro(s) e menos feliz o resultado alcançado.
Os que já atingiram bom rendimento, e, por exemplo, tiveram dezoito ou dezanove (poucos), não inspiram preocupação. Esses alunos sabem o que têm a fazer e, normalmente, fazem-no com gosto ou, pelo menos, com aplicação. O mérito dos resultados depende deles (muitíssimo mais do que do professor, pois que, se não fosse assim, todos, como eles, os teriam alcançado facilmente), pelo que o que há a fazer é optimizar o mais possível o trabalho e as estratégias para manter e, se possível, subir o nível que já alcançaram.
Todos os que obtiveram notas positivas abaixo da excelência devem estar animados, ou para a atingir ou para melhorar a sua prestação tanto quanto lhes for possível. Aqui, a ajuda do professor pode ser muito importante, sendo fundamental que, em nenhuma circunstância, a sua acção se transforme em acréscimo de dificuldade nem, muito menos, em motivo de desânimo. Mas cabe também a cada aluno fazer um esforço para colocar e esclarecer as dúvidas, expondo-as na aula, sem vergonha (motivo de vergonha e de tristeza – ou mesmo de culpa – seria escondê-las, como se fossem crime!), ou vindo às aulas de apoio ou pedindo uma explicação individual ou em grupo restrito, em tempo a agendar, na nossa bela biblioteca, tão bem servida como está de mesas de trabalho, de espaço, de luz e de ambiente.
E há aqueles (felizmente em pequeno número) que (ainda) não atingiram um rendimento positivo. Estes casos, em meu juízo, não se traduzem apenas num fracasso dos próprios. Esse fracasso é também meu. E aquela «nota» de «seis», que causou discordância de uma colega professora no conselho de turma, é também uma «nota de seis» no meu trabalho, que não foi eficaz naquele caso: Porque não entusiasmei aquele aluno? Porque não o despertei para as matérias que ensino? Porque não «acedi» à profundeza das suas dúvidas, das suas dificuldades ou dos seus interesses? Não sei responder a mim próprio. Sei, porém, que há muitíssimas outras variáveis a influenciar a equação que não dependem de mim, o que não invalida que me pese que as minhas explicações e os meus desafios nunca tenham feito brilhar os olhos daquele menino… Naturalmente, estou disponível para trabalhar com ele e com os demais de modo a que melhorem. E as melhoras são possíveis, em meu entendimento. Naquele caso e, por maioria de razão, nos outros. Todo o tempo é tempo. Cá estou, com a disponibilidade de sempre, meus caros. Não receiem. Não hesitem. Ajudem-me a ajudar-vos. O que não gosto é de aldrabar resultados.
A finalizar, e entre parêntesis, confesso: ao longo destes anos todos, fica(-me) a triste impressão de que, para muitos agentes, mais por causa dos gastos, e por outras razões que (a meu ver) não colhem, do que por verdadeira preocupação com a preparação dos alunos, o importante é que todos passem. O caso é que todos os professores, suponho, gostam que os seus alunos aprendam, saibam e… passem! Se, porém, for forçoso obter aprovação em quaisquer circunstâncias, faça quem manda o favor de o assumir e produzam-se leis que estipulem que todos progridem (excepto se os próprios ou os seus encarregados de educação não o desejarem, já agora) independentemente das classificações, que são coisa diferente e necessária. Induzir ou conduzir, por quaisquer meios, os professores à batota é que não – é mau para todos e impossível para alguns.
Fim de parêntesis.
Mas o sentido desta conversa é outro: Temos menos de meio ano para o fim das aulas. E era bom que todos se pudessem divertir tão intensa quanto merecidamente por alturas do S. João.
Ao trabalho, até lá.
José Batista d’Ascenção
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