Independentemente da idade, só quem sabe pode ensinar. Mostrando como se faz: aqui. |
Não ver bem, ouvir mal, esquecer-se ou confundir-se ou quase perder os sentidos nas aulas, não conseguir disfarçar certas dores ou aflições, leva a que muitos alunos comparem os professores aos seus avós. Esta comparação é (muito) lisonjeira (e poderá não ocorrer) quando os avós são pessoas (razoavelmente) saudáveis.
Muitos professores que estão neste estado, e que os médicos (ainda) não mandaram ficar em casa (em alguns casos apenas por não ter havido consulta específica), não chegaram a este ponto por causa das aulas propriamente ditas e do trabalho directo que lhes está associado: pesquisa bibliográfica, estudo, leccionação, apoio aos alunos, preparação e correcção de materiais de avaliação, etc.. O que derrota os professores é sobretudo:
- o desprezo com que são tratados: pelas hierarquias, pelos agentes da comunicação social, por alguns encarregados de educação e, em (muito) menor grau, por certos alunos;
- a multiplicidade e diversidade de solicitações para tarefas burocráticas e reuniões sem fim nem objectivo claro, moendo-os aparentemente só para isso: moê-los;
- a indefinição constante de currículos, disciplinas, programas e horários, quando não a de escolas e respectivas localidades em que muitos vão «peregrinando»;
- a desesperança de que algo, algum dia, mude para melhor, durante os anos restantes da sua profissão.
E no entanto, apesar de a classe docente estar bastante envelhecida, estas pessoas, etária e cronologicamente, não são velhas. Com a sua experiência profissional e de vida, numa sociedade decente, deviam reunir as melhores condições para compreender, estimular, acarinhar, orientar, ensinar e dar o exemplo a crianças e jovens.
Em Portugal ou em qualquer lugar. Fonte da imagem: aqui. |
Porque não é assim devia preocupar-nos seriamente.
A «crucifixão» de professores quinquagenários (pouco mais pouco menos do que isso) é um péssimo sintoma da saúde da sociedade. A seu tempo (mais cedo do que tarde), inexoravelmente, os que hoje são netos pagarão (com juros) a quem lhes dá tais exemplos. Mas cumpre-nos desejar e esperar que, por algum milagre imerecido, como é tipicamente nosso, as coisas não venham a ser assim. Oxalá, quem sabe?
Nota final: Não é intenção deste texto retratar ou sequer «inspirar-se» em quaisquer casos específicos que digam respeito ao autor ou a terceiros.
José Batista d’Ascenção
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