quinta-feira, 24 de maio de 2018

Direito ao sucesso ou sucesso para todos

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Passou a ser voz corrente no discurso de quem se pronuncia sobre os assuntos do «sistema educativo» (que antes foi chamado de «sistema de ensino») a referência ao «sucesso para todos». E não está mal, essa supunha eu que fosse a intenção de grande parte dos professores, desde sempre. O problema maior é… a realidade. Também estão determinados na lei o «direito à habitação», o «direito à saúde» e o «direito ao trabalho». E não deveriam nunca precisar de estar consignados legalmente direitos como o «direito a não ser pobre», o «direito a beber água limpa» ou o «direito de respirar ar puro».
Sabemos, no entanto, que são muitos os portugueses que vivem em condições indignas de habitação, mesmo esforçando-se honestamente a vida inteira para fugir a essa «fatalidade» e à pobreza em geral, que afecta um quinto da população, englobando, provavelmente, centenas de milhar dos nossos concidadãos desempregados. Também sabemos como é difícil, em muitos casos, beneficiar de acesso atempado a consultas e exames e intervenções médias no «sistema nacional de saúde» (SNS). SNS que, saliente-se, elevou notavelmente a assistência médica aos portugueses após o 25 de Abril, por exemplo em domínios como a saúde materno-infantil, razão por que não são demais todas as homenagens à acção e exemplo de um homem bom e íntegro e firmemente lutador como António Arnaut.
Mas também sabemos que há quem receba apoios para habitação sem os merecer (vejam-se os casos de não poucos deputados), quem não se sinta mal por não ter trabalho e quem ocupe cargos ou salte de uns para outros e expensas do erário público sem produzir nada que o justifique ou dando prejuízos colossais, que todos os contribuintes pagarão. E também há quem use, senão imerecidamente, pelo menos inadequadamente o SNS, caso de supostas urgências que, não o sendo, prejudicam a assistência nos casos que na realidade o são.
Isto para dizer que faz sentido cultivarmos e concretizarmos a ideia de que, salvo em crianças de tenra idade, a quaisquer direitos correspondem deveres, princípio com aplicação a miúdos a graúdos, e que só cumprindo deveres e obrigações, em termos éticos, morais e legais, é legítimo reclamar os direitos correspondentes. Educar tem que incluir isso, necessariamente. E as crianças entendem e aceitam isso muito bem.
Sucesso para todos. Direito ao sucesso. Sim, está bem. Mas sem abdicar de seriedade e clareza e rigor e sem esquecer deveres e obrigações de quaisquer alunos e, sobretudo e antes de tudo, dos seus encarregados de educação, como também dos professores. Caso contrário entramos num sistema de aprendizagem de ilusão e de batota, em que quem pertence aos estratos sociais mais desfavorecidos – os mais pobres – se eterniza, porventura inconsciente e colaborativamente, nessa condição, de que fica prisioneiro. 
E não há o direito de transformar os professores em agentes (forçados) de tão sinistra acção pedagógica. E de culpá-los pelas consequências.
Se me faço entender… 

José Batista d’Ascenção

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