sábado, 28 de julho de 2018

A escuridão da ignorância e o «eclipse» da «Escola Pública»

Imagem obtida aqui
Há cerca de vinte e quatro horas saí de casa na expectativa de que algum dos pontos nas proximidades da cidade, sobre que conversara com a minha companhia, havia de ter suficiente escuridão para uma observação mais interessante do eclipse lunar. Ilusão, a poluição luminosa é um facto em qualquer sítio: se não forem anúncios luminosos, serão ermidas com holofotes ou as luzinhas intensas das mais diversas antenas. Optámos pelo lugar mais alto e mais largo, mas também mais concorrido e com a inconveniência de ter mais luz do que a desejável. Ainda assim, no escurinho possível, eram bastantes as máquinas fotográficas com «zooms» maiores e menores dispostas sobre tripés, apontadas nas mais diversas direcções: parecia que os seus operadores desconheciam a orientação do Nascente e todos esperavam que alguém visse primeiro a lua «cor de sangue».
Logo que o astro surgiu, discreto sobre as copas que se antepunham ao horizonte, algo obstruído por ligeiro «algodão nebuloso», mas com o seu arco completo bem distinguível contra o fundo do céu, todos os olhares se viraram na mesma direcção. Não foi grande o entusiasmo. E as crianças mais pequenas, ao colo dos pais ou pela mão, não só não mostravam interesse, como condicionavam a observação e a troca de impressões entre os adultos por elas responsáveis. Numa ou noutra conversa, percebia-se que havia pessoas que não tinham a percepção correcta do fenómeno que observavam, sendo improvável que todos os que permaneciam em silêncio tivessem esse conhecimento. A Marte, à mesma hora a brilhar no céu, aparentemente ninguém procurava… Poucos minutos depois, a multidão debandava, até porque o fenómeno passou a ser visível de qualquer lugar.
Assim mesmo, gostei de ver tantas pessoas a olhar para o céu num momento tão especial. Os órgãos de comunicação social e as redes virtuais estimularam (e bem) a curiosidade e explicaram o fenómeno devidamente (o que foi bom), mas se o primeiro aspecto teve êxito o segundo não terá tido tanto assim. Acontecimentos deste tipo, ocorrendo em tempos de aulas, deveriam ser aproveitados pelas escolas para sessões de observação e esclarecimento de crianças e jovens, que seguramente se entusiasmariam e facilmente aprenderiam. Mas as nossas escolas tornaram-se espaços de frustração e de tristeza, senão de conflito entre um ministério dito da educação que parece desconfiar dos professores, que ele próprio admitiu no sistema, segundo as suas regras, e sujeitos aos contratos feitos por si, e os docentes; e que parece actuar mais para os perturbar e obrigar a burocracias impraticáveis do que a dar-lhes as condições para que possam trabalhar devidamente. E os professores, conduzidos, nem sempre bem, por sindicatos que se multiplicaram às dezenas, contribuem facilmente (por acção e por omissão) para que os olhares dos agentes da imprensa e das redes digitais se centrem negativamente sobre si próprios em vez de incidirem sobre a falta de condições a que os sujeitam. Pelo meio há os alunos e os seus pais, os quais, no centro de tanta confusão e de tantas falhas de procedimentos e de resultados, tendem, em muitos casos, a não apoiar os (seus) professores. Ora, sem professores que sintam entusiasmo perante os (seus) alunos e sem alunos que sintam apreço pelos (seus) professores e (algum) gosto pelas suas aulas e pela frequência da escola, não há verdadeiro sistema de ensino.
Mas entre nós, e muito por culpa do ministério, nem sequer se consegue obter consenso sobre as «aprendizagens essenciais» que sejam isso mesmo, aprendizagens fundamentais no percurso formativo dos alunos. Quanto mais sobre a maneira de as conseguir.
Por muitos motivos, assistimos uma espécie de eclipse progressivo da imagem, do prestígio e, o que é pior, da eficiência da Escola Pública.
O que é absolutamente inaceitável.

José Batista d’Ascenção

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