quinta-feira, 19 de julho de 2018

«Aprendizagens essenciais» orientadas para o «perfil do aluno» ou chover no molhado?

Só hoje reuni paciência para ler «o documento para consulta pública» relativo às «aprendizagens essenciais» dos conteúdos dos programas de biologia e geologia em vigor para o 10º ano de escolaridade, face às «áreas de competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória que se pretendem desenvolver.»
A gente lê e pasma. Este programa, sobretudo na parte de biologia, é um programa que os professores não conseguem cumprir facilmente, devido a problemas de articulação, de sequenciação (cada unidade de conteúdo não se relaciona directamente com as seguintes nem com as precedentes, o que também se aplica, com a restrição adequada, à primeira e à última), de extensão e de (des)actualização, mas que os docentes também não têm por hábito denunciar, eles mesmo e as organizações que os representam (e de que me excluo), preferindo antes elogiar-lhe a «estabilidade». Pois a elencagem das aprendizagens essenciais agora sugeridas mantém quase todos os conteúdos, mas sem definição adequada e precisa. Por exemplo, recomenda-se «explicar as caraterísticas da Terra e do Sistema Solar (…) com base na Teoria da Nébula Solar», mas fica-se sem saber, especificamente, se se deve ou não (continuar a) fazer a caracterização básica dos principais tipos de meteoritos e a sua significação e importância para a história geológica da Terra.
Onde há basta informação é na coluna (à direita) intitulada «ações estratégicas de ensino orientadas para o perfil dos alunos» e que incluem recomendações deste tipo:
- imaginação de alternativas a uma forma tradicional de abordar uma situação-problema;
- análise de factos, teorias, situações, identificando os seus elementos ou dados;
- respeito por diferenças de características, crenças, culturas ou opiniões; 
- cumprimento de compromissos contratualizados (por exemplo, prazos, organização, extensão, formatos e intervenientes);
Mas que (me) adianta isto?
As pessoas que escrevem estas coisas não terão mais nada que fazer? Vejam lá que eu pensava que em todos os anos que levo de ensino, assim como com todos os profissionais que me antecederam como professores, outras não eram as preocupações e os cuidados que agora fazem parte daquela longa lista. As dificuldades estão, muitas vezes, em encontrar as soluções concretas, coisa que a lista também não sugere nem exemplifica em casos possíveis, o que ninguém, de resto, esperaria. Já era muito que, da parte de quem manda, se optasse por alguma reserva e humildade, que sempre cai bem e anima mais que emblemáticas e entusiásticas (?) recomendações vazias. Assim…
Adiante. Faço um esforço e vejo que nestas «aprendizagens essenciais» está referida a fotossíntese, mas não a quimiossíntese. Será que a quimiossíntese deixou de fazer parte? Na parte (imensa) da regulação dos seres vivos também não vejo referência às «hormonas vegetais» que eram um «castigo» a que os alunos reagiam não estudando essa matéria. Mas será que deixam mesmo de contar?
Contente que eu ficava se alguém esclarecesse!

José Batista d’Ascenção

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