Quem anda pelas escolas está acostumado a lidar com as mais diversas maneiras de proceder dos jovens dos nossos dias. Todas elas próprias da idade e da educação que tiveram (ou não), tanto podem surpreender-nos pela positiva como descer a um nível que, apesar de tudo, não julgaríamos possível.
Na tarde de ontem pude testemunhar os dois extremos. Fui à escola a pedido de uma aluna (minha) que pretendia rever a sua prova de biologia e geologia a fim de ponderar um eventual pedido de reapreciação. Boa aluna, ouviu com atenção a minha opinião sobre as várias questões analisadas, percebeu onde falhou e pôde verificar que o seu dezassete foi justamente atribuído pelo(a) classificador(a). Finda a análise não escondeu o seu lindo sorriso e pronunciou uma palavra de agradecimento franco. Deu gosto esclarecê-la.
A meio desse trabalho, aproximara-se uma funcionária para comunicar que um aluno que fora a exame como externo vinha solicitar a disponibilidade de algum professor que lhe revisse a sua prova para o mesmo efeito.
Atendido a seguir, explicadas as questões em que errara e a justeza das classificações atribuídas, o rapaz demorava-se nas respostas «abertas», querendo ver no que escreveu – e que tão malzinho estava! – a cabal resolução das perguntas. Uma colega minha, da mesma disciplina, que ocupava uma mesa ao lado, na mesma tarefa, com um aluno seu, logo que terminou juntou-se-me solidariamente para melhor podermos analisar a prova que eu tinha entre mãos. Mas não surtiu melhor efeito o esforço de nós ambos em fazer entender eficazmente àquela alma que um discurso «alternativo» e vago em vez da linguagem precisa e rigorosa da ciência não constitui qualquer resposta aceitável ao que se exige. Exemplificando: pretendia o aluno que expressões como «o ”relaxe” de uma placa» (litosférica) sujeita a pressões é o mesmo que ultrapassagem do limite de elasticidade das rochas e consequente rotura ou que «minas invasivas» pode equivaler a risco geológico estrutural de colapso ou deformação do terreno sobre galerias, entre outras afirmações do mesmo calibre…
Quando lhe dissemos que, em nosso entender, a prova estava bem classificada, invocou ser um aluno de mérito, ter tido altas classificações nas disciplinas de 12º ano não sujeitas a exame (dando como exemplo o seu dezanove à disciplina anual de biologia), que os exames não avaliam nada, como o caso dele demonstrava, e que deviam acabar.
Não o contestámos. O nosso trabalho estava feito. O dez que constava na sua prova pareceu-nos rigorosamente justo.
Aquele aluno seguiu-se uma outra aluna que também foi a exame como externa, e foi fácil e agradável esclarecê-la: o seu dezassete era o que devia ser, por não haver erros de classificação.
No final, em breve comentário com a colega, não pudemos deixar de referir os tempos que vivemos e eficácia que a Escola pode ter na (boa) formação dos jovens. Como é possível haver jovens que terminam o 12º ano com egos tão injustificadamente dilatados?
E comigo, em silêncio, enquanto me dirigia para o carro, reforçava a ideia de que os exames (bem feitos) são mesmo necessários. Pelas razões expostas e por outras.
José Batista d’Ascenção.
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