sexta-feira, 6 de julho de 2018

AINDA A DEGRADAÇÃO DO ENSINO EM PORTUGAL

Texto amavelmente cedido pelo Professor Galopim de Carvalho, que aqui se publica com sentido agradecimento
Começo por dizer que não estou só nesta afirmação. Há pouco mais de um ano, o Primeiro Ministro António Costa, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto, disse, preto no branco: “De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”. 

Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada”, entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática e cultura humanística. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE.

As muitas dezenas de comentários, desencadeados pelos meus escritos no Facebook sobre este tema, suscitaram um muito interessante debate, que me ajudou a consolidar a minha opinião sobre um grave problema que nos atinge e que urge enfrentar. 

É, pois, minha convicção que:
Como no antigamente, a par de bons, muito bons e excelentes professores, muitos deles desmotivados, há outros, francamente maus, instalados na confortável situação de emprego garantido até à reforma. 

A preparação científica e pedagógica dos professores não pode deixar de ser devida e profundamente avaliada, através de processos de avaliação a sério, criteriosamente regulados, por avaliadores devidamente credenciados.

Os sindicatos, nivelando, por igual, os bons e os maus professores, têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do nosso ensino público.

Os professores têm de saber muito mais do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino. 

Os professores necessitam absolutamente de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm. É, pois, essencial libertá-los de todas as tarefas que não sejam as de ensinar.

É necessário e urgente repor, como inerência de cargo, a dignificação e o respeito pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar.

É necessário e urgente que a Escola recupere todas as competências fundamentais à disciplina, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter.

É necessário e urgente rever toda a política dos manuais de ensino, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.

É preciso repensar a política de exames, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários.

É necessário resolver o gravíssimo problema da colocação de professores, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias;

A remuneração dos professores tem de ser compatível com a sua superior importância na sociedade.

É preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, não só na escolha dos titulares, como nas respectivas dotações orçamentais.

É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.

Lisboa 5 de julho de 2018
A. M. Galopim de Carvalho

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