quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Diversidade de seres vivos, a classificação em reinos, segundo Whittaker – nota para alunos de 10º ano

Fonte da imagem: aqui.

Já na segunda metade do século XIX, propôs-se um terceiro reino, para além de animais e plantas, onde se englobavam todos os seres vivos conhecidos nem claramente animais nem vegetais. Esse novo reino, de abrangência variável, segundo diferentes autores, foi designado, já no século XX, Reino Protista.

Após o grande avanço técnico que permitiu a invenção do microscópio electrónico, entendeu-se que, sendo tão grandes as diferenças entre células procarióticas (identificadas desde 1878, por Haeckel) e eucarióticas, devia criar-se um novo reino que incluísse todos os seres procariontes, (todos os tipos de bactérias) - e foi aceite o Reino Monera.

Em 1969, Whittaker propôs um novo reino para incluir os fungos (cogumelos, bolores, leveduras), seres eucariontes com importantes características distintivas. Segundo Whittaker, passaria a haver cinco reinos: Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Devido a dificuldades várias com a distribuição em reinos de muitos seres eucariontes, Whittaker modificou os seus próprios critérios. Por exemplo, para não separar as algas verdes, que incluem formas unicelulares, coloniais e multicelulares, por dois reinos, propôs que se incluíssem no Reino Protista os seres multicelulares sem apreciável diferenciação de tecidos. Os fungos flagelados foram também “puxados” para o mesmo reino.

À classificação em reinos de Whittaker, situada no tempo, e já desactualizada, sucederam-se muitas outras classificações de outros autores, com novos dados, mas os seus critérios conservam interesse, coerência e alguma simplicidade, pelo que se mantêm no programa. Esses critérios base são:

A estrutura e organização celular: Seres procariontes unicelulares ou coloniais (Reino Monera). Seres eucariontes unicelulares, coloniais ou multicelulares com diferenciação reduzida (Reino Protista). Seres eucariontes multicelulares com células uninucleadas, com cloroplastos e paredes celulares celulósicas (Reinos Plantae) e sem paredes celulares nem cloroplastos (Reino Animalia). Seres eucariontes com paredes celulares quitinosas, sem cloroplastos (Reino Fungi).

O tipo de nutrição:

Por absorção de nutrientes a partir do ambiente: parte dos seres do reino Monera, alguns do reino Protista e todos os do reino Fungi;

Por autotrofia, particularmente a fotossíntese: as bactérias autotróficas, os seres autotróficos do reino Protista, designadamente as algas (unicelulares, coloniais e pluricelulares) e todas as plantas;

Por ingestão do alimento (matéria orgânica) para o interior do corpo, onde vai ser digerido e assimilado. Este modo de nutrição encontra-se em alguns protistas e é característico de todos os animais (que derivaram de formas antigas de seres daquele tipo por evolução).

O papel desempenhado nos ecossistemas (traduzido nas posições que os diferentes seres vivos ocupam nas cadeias alimentares):

Seres produtores: são todos os que produzem o seu alimento (matéria orgânica) a partir de matéria mineral (inorgânica). Dizem-se, por isso, autotróficos. O principal processo de autotrofia é a fotossíntese. Pela fotossíntese, na presença de luz, água e dióxido de carbono são usados pelos seres com clorofila para produzirem compostos orgânicos como a glucose. Nesse processo, liberta-se um resíduo que é o oxigénio gasoso. Quimicamente, o processo é o seguinte:

6CO2 + 6H2O -------> C6H12O6 + 6O2

Seres macroconsumidores: São todos os seres vivos que precisam de ingerir matéria orgânica (alimento), obtida dos seres vivos que consomem. Dizem-se, por isso, heterotróficos (por ingestão).

Seres decompositores ou microconsumidores: São todos os seres vivos, como as bactérias heterotróficas e os fungos, que absorvem matéria orgânica digerida extracorporalmente, e a transformam em matéria mineral que devolvem ao meio ambiente, onde fica disponível para os produtores. 

José Batista d’Ascenção

Da origem à diversidade de seres vivos – nota para alunos de 10º ano

Imagem da Wikipédia

Todos os organismos vivos são constituídos por unidades compartimentadas, de funcionamento bioquímico complexo, a que chamamos células (pequenas “celas”). Dizemos, por isso, que as células são as unidades estruturais e funcionais dos seres vivos. Os vírus são partículas biológicas que usam células específicas para se multiplicar, mas que não têm qualquer metabolismo (não se alimentam, não crescem, nem se reproduzem por si), pelo que não são seres vivos.

Surgidas na Terra há menos de 4000 milhões de anos (Ma), as primeiras células tinham uma organização (mais) simples. Algumas destas células englobavam outras para se alimentarem, mas porque, nalguns casos, as células englobadas realizavam alguma função útil, foram poupadas à digestão e passaram a viver em endossimbiose: recebiam alimento da célula hospedeira e forneciam-lhe alguma coisa útil em troca. Por evolução, ao longo de centenas de Ma, formaram-se células mais complexas a partir das associações de sucesso, de que resultou uma variedade de “órgãos pequenitos”, a que demos o nome de organitos ou organelos, cada um deles com uma importante função específica na célula.

Às células complexas providas de núcleo e de organitos membranares chamamos células eucarióticas (do grego: eu = verdadeiro e káryon = núcleo;) e àquelas que não apresentam núcleo nem a mesma riqueza de organelos membranares designamo-las por células procarióticas (organização anterior à existência de núcleo).

Por definição, um ser vivo tem, no mínimo, uma célula – diz-se, então, um ser unicelular. Se vários seres unicelulares idênticos vivem tipicamente agrupados, mas sem grande colaboração entre as diferentes células, chamamos a essa estrutura viva um ser colonial. Dos seres unicelulares e coloniais, alguns são formados por células procarióticas – são seres procariontes – e outros são formados por células eucarióticas – trata-se de organismos eucariontes.

Por especialização e diferenciação progressiva das células de alguns seres coloniais eucarióticos, a evolução biológica resultou em seres pluricelulares de organização muito complexa, formados por tecidos celulares muito diferentes (conjuntos de células de forma e fisiologia idêntica que desempenham a mesma função, como por exemplo as células de diferentes tipos de músculos, as do cérebro ou as do fígado, etc.), que constituem os diferentes órgãos (coração, rins, etc.) os quais formam os diversos aparelhos ou sistemas (de reprodução, de excreção, de transporte…) de cada organismo complexo - são seres eucariontes pluricelulares.

Antes da invenção dos microscópios, não se conheciam os seres vivos de dimensão mais pequena, particularmente os unicelulares. Só com a ajuda de lentes e de sistemas de lentes foi possível observar os micróbios. Até essa altura, os seres vivos eram arrumados em dois grandes grupos, chamados reinos: o Reino Animal e o Reino Vegetal.

Naturalmente, esta divisão passou a ser insuficiente…

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Actividade lectiva aos tropeções

Imagem obtida aqui.

Esta manhã apliquei um teste em papel, feito presencialmente. Há alunos retidos em casa que não o puderam fazer e houve quem o fizesse sem ter estado presencialmente em várias das aulas anteriores.

Como está frio e chuva e as janelas são de grandes dimensões (± 1,5 m de largura por ± 1,4 m de altura), com as dobradiças na base, sem possibilidade de variar o grau de abertura (ou estão abertas ou fechadas), tivemos que as ter cerradas. Para permitir algum arejamento, deixámos a porta aberta. Contudo, na sala oposta decorria uma aula de matemática, também com a porta escancarada. Como a voz clara, nítida e alta da professora não permitia o silêncio desejável, fechámos também a porta, por algum tempo. Um pequeno contratempo, ou grande, se der origem a que mais alunos tenham que ficar em isolamento profilático (ou o professor, neste caso, eu).

As aulas têm decorrido com várias restrições, sendo que umas vezes não estão uns alunos e outras vezes não estão outros. Em vários casos falta(ra)m as turmas inteiras. Por isso, tem-se recorrido a aulas à distância, que não resultam, nem de perto. Quando todos os alunos de uma turma estão em casa, muitos deles não prestam qualquer atenção, nem sempre por culpa própria… E quando alguns alunos assistem à distância às aulas presenciais dos restantes, ouvindo a voz do professor e vendo a sua cara ou as imagens que projecta, mas sem divisar o que se escreve no quadro, por exemplo, o aproveitamento também fica muito limitado (e para que isto se consiga é preciso salas com equipamento, designadamente câmaras, o que nem sempre existe).

Não é pois verdade que o primeiro período tenha decorrido com normalidade.

Entretanto, a situação sanitária do país agrava-se de modo preocupante, o que vai provavelmente obrigar o governo a fechar as escolas, coisa que já devia ter feito. Em consequência, os prejuízos para as aprendizagens vão acentua-se. E como estes prejuízos se somam aos do ano lectivo anterior e não são homogéneos sequer entre os alunos da mesma escola, quanto mais entre os de escolas diferentes, a feitura de exames nacionais, o seu desenho, a sua equidade, a sua justiça, a sua credibilidade e a sua boa utilidade perdem-se em grande medida. Os do ano passado já foram demasiadamente afectados por esses males.

Donde, se o fundamental é que os alunos aprendam e se seria lógico que ingressassem no ensino superior em função das suas habilitações (os «filtros» de entrada são outra matéria, que devia caber principalmente às instituições respectivas, as quais estão a tempo de os preparar), parece-me que os exames nacionais de Junho-Julho deviam ser suspensos e que essas semanas deviam servir para prolongar o ensino presencial.

Não faz sentido que o actual sistema de acesso ao ensino superior (leia-se, exames) se constitua como mais um de muitos obstáculos a uma melhor preparação dos alunos (e não apenas pelos motivos indicados).

José Batista d’Ascenção

domingo, 17 de janeiro de 2021

As escolas deviam parar já. Também devíamos suspender os exames e prolongar as aulas até meio de Julho, se e onde a temperatura o permitisse. A atividade económica e a solidariedade social deviam ser dirigidas para o socorro a quem precisa de pão, de assistência médica e de pagar água e energia

Imagem colhida aqui.

Os hospitais sucumbem à avalanche de ambulâncias.

O desespero pode generalizar-se por falta de saúde (dos doentes e dos restantes, que vêem a pandemia expandir-se sem controlo, dificultando a prestação de assistência em geral) e por causa das perturbações no emprego e no rendimento das pessoas.

O governo espera dos especialistas a indicação de soluções que são difíceis e que não são consensuais. Os cidadãos confiam pouco nos políticos e é indesejável que passem a não acreditar nos cientistas e nos técnicos.

As igrejas, as instituições e as organizações de solidariedade e as pessoas que podem têm o dever de ajudar os que precisam, em acções organizadas ou individuais.

Não tenho soluções salvíficas nem receitas. Este apontamento não é um grito mais na desorientação que todos temem. Mas, sendo cidadão cumpridor dos deveres inerentes, autorizo-me a expor humildemente a minha opinião e a manifestar disponibilidade.

Melhores tempos virão. E não podem estar longe, sobretudo, se nós formos (serena e discretamente) melhores.

José Batista d’Ascenção

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Ensino da biologia e da geologia – porquê complicar o que é simples?

As noções fundamentais de biologia e de geologia no ensino básico e no ensino secundário são interessantes e de compreensão (relativamente) fácil por quaisquer alunos.

Porque é que (nas décadas mais recentes) o seu ensino se complicou ou (artificialmente) o complicaram?

Imagem obtida aqui.

Nos anos setenta e oitenta do século XX, o ensino da biologia e da geologia no ensino não superior padecia das falhas pedagógicas desse tempo, era muito teórico, com uma ou outra experiência magistral demonstrativa, e virado para a memória, mas eram raros os alunos que precisavam de explicações por fora. Essas eram procuradas principalmente para conteúdos de matemática ou de física e química, tidos por mais difíceis, ou de línguas, e restritas a quem podia pagar. As matérias de biologia e de geologia não colhiam a preferência de todos, mas não incluíam partes que merecessem a aversão figadal dos alunos. Tinham ficado para trás, havia anos, as “incompatibilidades” de alguns com os sistemas cristalográficos, entretanto removidos dos programas, tendo-se chegado, aliás, à exclusão da geologia dos currículos bastante depois de instaurada a democracia, regime que foi dilatando a duração da escolaridade obrigatória.

Quando se reintroduziram os exames nacionais nas disciplinas da formação específica do 12º ano, os alunos que precisavam e podiam passaram a procurar ajuda externa. E a biologia de 12º ano tornou-se mais uma das disciplinas com nicho de mercado adicional. Alguns professores da área viram abrir-se-lhes a possibilidade de melhorarem os proventos do seu trabalho e, honestamente, passaram a “dar” explicações. Nada de mais. À parte a desvantagem crónica dos pobres, que nunca comoveu muitos para além dos próprios, as únicas explicações caras terão sido as que não prestavam, ainda que gratuitas. Essa ajuda melhorou a preparação de muitos alunos e aos que a não podiam pagar restava aplicarem-se mais para, pelo menos, obterem aproveitamento.

Com o virar do milénio, o mundo pedagógico encheu-se de soluções para todas as crianças e jovens: “packs” de manuais, redes de centros de explicações, ensino elitista privado só para alunos bons e com capacidade económica, tecnologias digitais, gabinetes de psicologia educacional, apoio à deficiência, etc. Em todas as áreas se passou a fazer trabalho específico, com qualidade ou nem por isso, como era inevitável. Por razões nem sempre nem todas identificadas, o rendimento escolar não melhorou como seria expectável e, pior, não poucos alunos detestam certas disciplinas ou mesmo a escola. Ao mesmo tempo, os professores foram perdendo credibilidade e até o respeito de alunos, de pais e de largos sectores da sociedade, perante a letargia do ministério da educação. Muitos acontecimentos lamentáveis a que se chegou, dentro e fora das salas de aula, como as agressões gratuitas e impunes a professores, são disso testemunho.

A reputação do ensino público foi sofrendo erosão severa. Com o argumento de expor as variáveis negativas e aferir a qualidade das aprendizagens entregou-se a avaliação externa a uma entidade especializada e “independente” responsável pela elaboração de exames nacionais, a qual surgiu e houve por sigla GAVE, mais tarde mudada para IAVE.

Executados em conformidade com os requisitos científico-pedagógicos actualizados, os exames mediriam com rigor o saber dos alunos, identificariam as áreas de falhas, contribuiriam para maior justiça no acesso ao ensino superior e avaliariam a qualidade dos professores.

Devia ter sido assim. Mas não foi. Sabemo-lo. O pior de tudo é o fraco auxílio das provas de exame, instrumentos demasiadamente imperfeitos (refiro-me às provas de biologia e geologia do GAVE/IAVE), na preparação dos alunos e as marcas de aversão a certos conteúdos que deixam neles. Quem duvidar, pergunte-lhes.

O panorama devia ser mudado, o que inclui a melhoria da adequação das provas (pelo menos as de biologia e geologia), mas há interesses que o impedem, descredibilizando o ensino e os próprios exames. O que é pena, porque examinar a aprendizagem - sejam quais forem as modalidades utilizadas - é absolutamente necessário. 

José Batista d’Ascenção


domingo, 10 de janeiro de 2021

O ano lectivo comprometido e o avanço galopante da pandemia

Imagem obtida aqui.

Este ano lectivo iniciou-se com as aulas a funcionarem em regime presencial, como devia. Os professores corresponderam e os alunos surgiram com uma atitude diferente e melhor, depois de longos meses em casa, não obstante as muitas falhas no que ficou por aprender, com prejuízo sobretudo dos alunos mais pobres. Os exames nacionais do Verão passado foram uma caricatura (19 foi a classificação mais obtida na disciplina de matemática!) e nem sequer serviram para assinalar as matérias menos aprendidas.

As aulas decorridas desde Setembro foram mais ou menos sequenciais e completas em algumas turmas, mas bastante entrecortadas noutras, entre lições presenciais e à distância, para alguns alunos ou mesmo para todos, em períodos genericamente curtos, mas repetidos nalguns casos. Resulta disto prejuízo na progressão sequencial e dispersão de lacunas várias por um número não pequeno de crianças e jovens.

Certo que, globalmente, as coisas até correrem relativamente bem face às expectativas e aos receios que havia. Mas as aulas não decorreram normalmente. E o número declarado de casos de doença não é maior porque muitas pessoas são assintomáticas e a realização de testes de despistagem, pelo menos entre os professores, foi residual (eu tive e terei vários alunos infectados nas aulas que dei e que dou, mas nunca fui solicitado para ser testado…).

Quando, antes da abertura das aulas, ouvi Francisco George afirmar que a “Cruz Vermelha” tinha meio milhão de testes rápidos (com resultados em 15-20 minutos), pensei que viessem a ser usados também nas escolas, para melhor gestão e tomadas de decisão, mas nunca mais ouvi falar de tal coisa. Não sei como terão sido utilizados ou se o foram.

Entretanto, as escolas foram funcionando com o esforço e a boa vontade de professores e funcionários. Mas os problemas estruturais mantêm-se e nem sequer a burocracia sofreu alguma redução. Não há quaisquer vestígios de que tenha melhorado em nada a qualidade do ensino praticado este ano, as dificuldades é que cresceram, pelo que mais se justificava incidir no cerne dos problemas. Já o formalismo dos exames mantém-se, como se estivéssemos num ano normal e o fundamental fosse “envernizar” o tradicional “funil de ingresso” no ensino superior. Os questionários de exames serão artificiosamente compostos e classificados, passando por cima da incongruência desses instrumentos com o trabalho lectivo real e ignorando a desarmonia e incoerência com as provas e classificações do ano passado e anteriores (umas e outras também díspares entre si de uns anos para os outros). As prioridades deviam ser outras: quanto a mim, ensinar o melhor possível. As universidades estão muito a tempo de fazerem a selecção dos alunos pelo que eles sabem e não segundo ordenações classificativas pouco rigorosas e desigualmente inflacionadas. Tecnologia não falta. O sistema existente, ao amestrar alunos para os truques dos questionários do IAVE, fomenta alguns negócios: desde “indústrias editoriais” e grandes redes de centros de explicações a diversos equipamentos e software informáticos, uns úteis e outros inúteis; e estimula a competição feroz pelas “notas”, que não propriamente pelo saber. Tudo isto falha na preparação humanística e científica dos alunos, na sua formação cívica e até na promoção da sua sanidade física e mental.

Nesta altura, e após a quadra do Natal, em que os (cidadãos) portugueses não procederam adequadamente, na sequência (ou em consequência) da fraca assertividade dos políticos nas recomendações prévias (face à informação e aos pareceres médicos e científicos de que dispunham), os números de contaminações dispararam e os hospitais estão à beira da ruptura. Tornou-se necessário novo confinamento.

Como deixar de fora alunos e professores, muitos destes já em idade de risco?

Não vale a pena iludirmo-nos. 

José Batista d’Ascenção

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Os meus desejos profissionais para 2021 e daí em diante

Imagem colhida aqui.

No sistema de ensino, a que pertenço desde 1984, quase nada nunca mudou para melhor. Até as tecnologias digitais, que deviam facilitar as tarefas de todos e resolver muitos problemas, se tornaram motivo para mais burocracias, complicações e dependências. Não que as ferramentas, em si, não sejam excelentes e cada vez melhores. O uso que fazemos delas é que não tem sido nem é o mais eficaz.

Suponho que a “máquina” do ministério da educação, intrinsecamente perra, os órgãos conexos e os institutos relacionados funcionam mais para se manterem (e darem ocupação a quem lá tem os seus lugares) do que para aprendermos com os erros, incidirmos no que precisa correcção, eliminarmos vícios, colmatarmos falhas e atacarmos os problemas de solução possível.

Muito para além de suplantarmos a actual pandemia, eu gostaria que:

- a formação inicial dos candidatos a docentes fosse exigente em matéria científica e não inculcasse “princípios” e procedimentos pedagógicos que a ciência não comprova;

- a selecção de professores fosse criteriosa e só pudessem entrar na docência pessoas de alta valia ética e profissional;

- a avaliação dos docentes englobasse as suas condições de saúde, especialmente a saúde psicológica, e não fosse uma caricatura sem coerência nem rigor nem dignidade, como se verifica actualmente;

- os programas (de algumas disciplinas, por exemplo a parte de biologia da disciplina de biologia e geologia de 10º ano) fossem revistos, por ou sob supervisão de especialistas das áreas científicas de craveira internacional;

- os exames fossem elaborados em respeito e na observância do estipulado nos programas, que tivessem coerência entre si, em anos sucessivos, e que não fossem concebidos para que os alunos obtenham (ou não) determinadas classificações;

- que se estude a discrepância manifesta entre as classificações internas das escolas nas disciplinas em que há exames nacionais (por exemplo de biologia e geologia de 11º ano) e as classificações internas das disciplinas (das mesmas escolas) em que não há provas nacionais (por exemplo de biologia de 12º ano; análise extensível a outras disciplinas optativas no 12º, como psicologia, física ou química) e se assuma o que se está a passar: nisto, não há inspecção nem algum “IAVE” que dê por nada?;

- que eu ensinasse para preparar alunos em vez de ser um funcionário ao serviço do “funil” de ingresso no ensino superior, treinando jovens para saltarem a barreira dos questionários, tantas vezes obtusos, do IAVE;

- que se passe a respeitar o que determina o estatuto da carreira docente relativamente às horas de redução da componente lectiva dos professores com mais anos de serviço (artigo 79º), por só pode ser ilegal  (e humilhante) obrigar estes professores a substituírem outros nas suas faltas, já que tal função não é mais que serviço lectivo;

- e que os professores sejam libertos de funções burocráticas, porquanto, se são professores, o seu papel deve ser ensinar os alunos.

São muitos desejos, que deviam ser fáceis de alcançar. Mas no nosso "sistema educativo” nunca nada foi fácil, sobretudo quando o devia e podia ser.

Bom Ano, especialmente no que depende de nós. 

José Batista d’Ascenção