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Este ano lectivo iniciou-se com as aulas a funcionarem em regime presencial, como devia. Os professores corresponderam e os alunos surgiram com uma atitude diferente e melhor, depois de longos meses em casa, não obstante as muitas falhas no que ficou por aprender, com prejuízo sobretudo dos alunos mais pobres. Os exames nacionais do Verão passado foram uma caricatura (19 foi a classificação mais obtida na disciplina de matemática!) e nem sequer serviram para assinalar as matérias menos aprendidas.
As aulas decorridas desde Setembro foram mais ou menos sequenciais e completas em algumas turmas, mas bastante entrecortadas noutras, entre lições presenciais e à distância, para alguns alunos ou mesmo para todos, em períodos genericamente curtos, mas repetidos nalguns casos. Resulta disto prejuízo na progressão sequencial e dispersão de lacunas várias por um número não pequeno de crianças e jovens.
Certo que, globalmente, as coisas até correrem relativamente bem face às expectativas e aos receios que havia. Mas as aulas não decorreram normalmente. E o número declarado de casos de doença não é maior porque muitas pessoas são assintomáticas e a realização de testes de despistagem, pelo menos entre os professores, foi residual (eu tive e terei vários alunos infectados nas aulas que dei e que dou, mas nunca fui solicitado para ser testado…).
Quando, antes da abertura das aulas, ouvi Francisco George afirmar que a “Cruz Vermelha” tinha meio milhão de testes rápidos (com resultados em 15-20 minutos), pensei que viessem a ser usados também nas escolas, para melhor gestão e tomadas de decisão, mas nunca mais ouvi falar de tal coisa. Não sei como terão sido utilizados ou se o foram.
Entretanto, as escolas foram funcionando com o esforço e a boa vontade de professores e funcionários. Mas os problemas estruturais mantêm-se e nem sequer a burocracia sofreu alguma redução. Não há quaisquer vestígios de que tenha melhorado em nada a qualidade do ensino praticado este ano, as dificuldades é que cresceram, pelo que mais se justificava incidir no cerne dos problemas. Já o formalismo dos exames mantém-se, como se estivéssemos num ano normal e o fundamental fosse “envernizar” o tradicional “funil de ingresso” no ensino superior. Os questionários de exames serão artificiosamente compostos e classificados, passando por cima da incongruência desses instrumentos com o trabalho lectivo real e ignorando a desarmonia e incoerência com as provas e classificações do ano passado e anteriores (umas e outras também díspares entre si de uns anos para os outros). As prioridades deviam ser outras: quanto a mim, ensinar o melhor possível. As universidades estão muito a tempo de fazerem a selecção dos alunos pelo que eles sabem e não segundo ordenações classificativas pouco rigorosas e desigualmente inflacionadas. Tecnologia não falta. O sistema existente, ao amestrar alunos para os truques dos questionários do IAVE, fomenta alguns negócios: desde “indústrias editoriais” e grandes redes de centros de explicações a diversos equipamentos e software informáticos, uns úteis e outros inúteis; e estimula a competição feroz pelas “notas”, que não propriamente pelo saber. Tudo isto falha na preparação humanística e científica dos alunos, na sua formação cívica e até na promoção da sua sanidade física e mental.
Nesta altura, e após a quadra do Natal, em que os (cidadãos) portugueses não procederam adequadamente, na sequência (ou em consequência) da fraca assertividade dos políticos nas recomendações prévias (face à informação e aos pareceres médicos e científicos de que dispunham), os números de contaminações dispararam e os hospitais estão à beira da ruptura. Tornou-se necessário novo confinamento.
Como deixar de fora alunos e professores, muitos destes já em idade de risco?
Não vale a pena iludirmo-nos.
José Batista d’Ascenção
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