As noções fundamentais de biologia e de geologia no ensino básico e no ensino secundário são interessantes e de compreensão (relativamente) fácil por quaisquer alunos.
Porque é que (nas décadas mais recentes) o seu ensino se complicou ou (artificialmente) o complicaram?
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Nos anos setenta e oitenta do século XX, o ensino da biologia e da geologia no ensino não superior padecia das falhas pedagógicas desse tempo, era muito teórico, com uma ou outra experiência magistral demonstrativa, e virado para a memória, mas eram raros os alunos que precisavam de explicações por fora. Essas eram procuradas principalmente para conteúdos de matemática ou de física e química, tidos por mais difíceis, ou de línguas, e restritas a quem podia pagar. As matérias de biologia e de geologia não colhiam a preferência de todos, mas não incluíam partes que merecessem a aversão figadal dos alunos. Tinham ficado para trás, havia anos, as “incompatibilidades” de alguns com os sistemas cristalográficos, entretanto removidos dos programas, tendo-se chegado, aliás, à exclusão da geologia dos currículos bastante depois de instaurada a democracia, regime que foi dilatando a duração da escolaridade obrigatória.
Quando se reintroduziram os exames nacionais nas disciplinas da formação específica do 12º ano, os alunos que precisavam e podiam passaram a procurar ajuda externa. E a biologia de 12º ano tornou-se mais uma das disciplinas com nicho de mercado adicional. Alguns professores da área viram abrir-se-lhes a possibilidade de melhorarem os proventos do seu trabalho e, honestamente, passaram a “dar” explicações. Nada de mais. À parte a desvantagem crónica dos pobres, que nunca comoveu muitos para além dos próprios, as únicas explicações caras terão sido as que não prestavam, ainda que gratuitas. Essa ajuda melhorou a preparação de muitos alunos e aos que a não podiam pagar restava aplicarem-se mais para, pelo menos, obterem aproveitamento.
Com o virar do milénio, o mundo pedagógico encheu-se de soluções para todas as crianças e jovens: “packs” de manuais, redes de centros de explicações, ensino elitista privado só para alunos bons e com capacidade económica, tecnologias digitais, gabinetes de psicologia educacional, apoio à deficiência, etc. Em todas as áreas se passou a fazer trabalho específico, com qualidade ou nem por isso, como era inevitável. Por razões nem sempre nem todas identificadas, o rendimento escolar não melhorou como seria expectável e, pior, não poucos alunos detestam certas disciplinas ou mesmo a escola. Ao mesmo tempo, os professores foram perdendo credibilidade e até o respeito de alunos, de pais e de largos sectores da sociedade, perante a letargia do ministério da educação. Muitos acontecimentos lamentáveis a que se chegou, dentro e fora das salas de aula, como as agressões gratuitas e impunes a professores, são disso testemunho.
A reputação do ensino público foi sofrendo erosão severa. Com o argumento de expor as variáveis negativas e aferir a qualidade das aprendizagens entregou-se a avaliação externa a uma entidade especializada e “independente” responsável pela elaboração de exames nacionais, a qual surgiu e houve por sigla GAVE, mais tarde mudada para IAVE.
Executados em conformidade com os requisitos científico-pedagógicos actualizados, os exames mediriam com rigor o saber dos alunos, identificariam as áreas de falhas, contribuiriam para maior justiça no acesso ao ensino superior e avaliariam a qualidade dos professores.
Devia ter sido assim. Mas não foi. Sabemo-lo. O pior de tudo é o fraco auxílio das provas de exame, instrumentos demasiadamente imperfeitos (refiro-me às provas de biologia e geologia do GAVE/IAVE), na preparação dos alunos e as marcas de aversão a certos conteúdos que deixam neles. Quem duvidar, pergunte-lhes.
O panorama devia ser mudado, o que inclui a melhoria da adequação das provas (pelo menos as de biologia e geologia), mas há interesses que o impedem, descredibilizando o ensino e os próprios exames. O que é pena, porque examinar a aprendizagem - sejam quais forem as modalidades utilizadas - é absolutamente necessário.
José Batista d’Ascenção
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