Fonte da imagem: aqui. [Adaptada] |
A curiosidade natural das crianças e o gosto de aprender parece perderem cada vez mais face às características, condições e modos de funcionamento da realidade escolar.
Não bastam a boa alimentação, a saúde, a segurança e o conforto das condições físicas indispensáveis: abrigo da chuva e do vento, luz adequada, temperatura nos valores aceitáveis, espaços condignos, higiene assegurada, para que se desencadeie nas crianças e nos jovens a vontade de saber mais.
Em primeiro lugar, esse gosto tem de ser acarinhado e estimulado permanentemente no ambiente familiar: o processo começa aí, provavelmente.
Os professores têm de ter conhecimentos científicos sólidos, profundos e alargados, reunir algumas características imprescindíveis, como o gosto e a paciência de ensinar, associados a uma boa preparação pedagógica. Os professores que estão no activo cedo perceberam, às vezes de modo chocantemente sofrido, que o grosso das teorias pedagógicas que lhes ministraram eram de pouca valia perante os problemas que tiveram de enfrentar (o que não impediu que se insistisse nelas...), nem eram a chave que lhes permitisse modificar a «deriva» da escola. Donde manter-se a oportunidade para a insistência em mudanças, agora muito recomendadas mediante «webinars», formas de «desbobinar» receitas através da rede global (web). Não iremos longe, se confiarmos demasiado nos milagres da tecnologia.
O «desenho» dos currículos (número e tipo de disciplinas obrigatórias, programas, carga e distribuição horárias) tem que centrar-se nas características, nas potencialidades e nas possibilidades dos alunos e não nas crenças ou na vontade ou nas preferências dos teóricos que os elaboram (e que raramente têm prática de ensino nas escolas básicas e secundárias).
Aos políticos devia caber o papel de tomar decisões claras, que pudessem ser seguidas, aprofundadas ou revertidas, sem as justificações arrevesadas que constam do preâmbulo da imensidade de leis labirínticas que enredam as escolas. Nada de protecção de interesses (académicos, corporativos, profissionais ou outros) e de negócios específicos dispensáveis (editoriais, informáticos, de fornecimento de materiais, obras, bens ou serviços, etc).
E às escolas devia caber a responsabilidade da sua acção num quadro bem definido, com uma direcção apoiada num conselho pedagógico focado na aprendizagem de alunos concretos e na resolução dos seus problemas. A dispersão da responsabilidade por mais de um órgão cimeiro nas escolas (como o «conselho geral» e seus antecedentes), ou a multiplicação de comissões diversas e inúteis, não lhes aumentou a eficácia nem o prestígio.
Atenção, porém: ontem regressei à escola e dei por mim na sala mais de meia hora antes do início da primeira aula. Ali fiquei, de pé, ansiando pelo regresso dos meus alunos. E como gostei de os ver e de lhes falar, embora com a boca e o nariz a coberto de uma máscara incomodativa, eles e eu. Impressionou-me o modo sereno, doce e (aparentemente) atento com que seguiram e participaram (a solicitação minha) em noventa (!) minutos de aula. Repeti a dose com os seguintes e saí, com a ideia animadora de que não é impossível que tenham partilhado o meu sentimento.
Só em casa dei pelo cansaço. Mas era um cansaço bom.
José Batista d’Ascenção
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