domingo, 24 de maio de 2020

E se ensinássemos os alunos do «ensino regular» (ao nível do secundário) para eles saberem e não para obterem uma «nota», qual «gazua» de acesso aos cursos mais pretendidos do ensino superior?

Exames nacionais: a escola e os alunos não são [o] problema. Aqui.
Mil vezes terei repetido: sou a favor dos exames. Mil vezes voltarei a repetir: desde que respeitadores do trabalho dos alunos e do esforço digno dos professores que os ensinam. Dito de outro modo: as provas de exame devem ser elaboradas em conformidade com os programas das respectivas disciplinas, mesmo quando esses programas não são perfeitos. Claro que, quando os programas são questionáveis, então carecem de ser analisados e modificados, porquanto não é possível aferir com equidade a qualidade das aprendizagens se não houver um normativo que defina os conteúdos a aprender e balize a profundidade e extensão que devem abarcar.
Na disciplina de biologia e geologia do ensino secundário conjugam-se vários males de diferentes origens e natureza, entre os quais: a falta de actualização, de sequenciação e de articulação, sobretudo do programa de biologia de 10º ano, problema que se arrasta desde a sua homologação em 2001; questionários de exame (do GAVE, primeiro, e depois, e até agora, do IAVE) discutíveis em termos científicos, técnicos e pedagógicos; autonomia e responsabilidade pedagógica dos professores limitada ao cumprimento obrigatório das orientações que recebem, as quais acabam por traduzir-se em treinar/amestrar impenitentemente os alunos (o que satisfaz indirectamente outros interesses) para as charadas (mais) típicas dos testes nacionais.
Trabalhar fora destes azimutes pode prejudicar as «performances» dos alunos. Saber é importante, mas pode não ser a chave perfeita para abrir as portas pretendidas…
Imagine-se agora que as instituições do ensino superior passavam a seleccionar os seus alunos. Com os meios técnicos de que dispõem, isso não constituiria dificuldade de monta. E então, os alunos do ensino secundário, para acederem a um curso superior, teriam que saber a matéria respeitante. Logo, a sua preocupação talvez passasse a ser prepararem-se convenientemente e não obterem uma "nota" que cubra eventuais descidas em exame. E os professores do ensino secundário, livres de pressões mais ou menos insidiosas, sob a invocação do "direito ao sucesso", poderiam focar-se na aprendizagem efectiva dos seus alunos. A inflação de notas, que (finalmente!) preocupa o senhor ministro, ficava também resolvida. E a substância da competição entre as escolas também se alterava, por/para motivos saudáveis. 
Não resolv(er)ia tudo, mas mudava muita coisa para melhor.

José Batista d’Ascenção

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