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«O teletrabalho em tempo de confinamento foi um alívio para empregadores e uma alegria para empregados. […]
No caso paradigmático dos professores, exigiu-se que dispusessem, do seu apertado bolso, de todos os meios necessários para o trabalho remoto: computador, câmara, Internet, sempre com qualidade suficiente para manter as aulas Zoom. Tudo foi aceite. Era uma situação temporária, de recurso. Entretanto, o teletrabalho foi granjeando entusiastas na percepção de que pode ser assumido como uma modalidade de actividade complementar, introduzindo uma ambicionada flexibilidade a servir os interesses das partes, num ajustamento às necessidades circunstanciais de ambos.
[…]
As aulas Zoom tendem à reprodução de um modelo expositivo que se julgava ultrapassado e cujo anacronismo surge agora legitimado pelo revestimento das novas tecnologias. Incentivar-se-á assim também experiências em curso de substituição dos professores por assistentes digitais (inteligência artificial), mais sábios, incansáveis e económicos. Do teletrabalho como um complemento desejável precipita-se para a sua proposta inquietante como alternativa. Afinal, no sector do ensino, como em outros, o teletrabalho possibilitará uma significativa redução de custos de operação, ao empregador, podendo estabelecer um novo quadro nas contratualizações laborais. Os empregados, porém, receiam a substituição do trabalho regular por um trabalho à peça, trocando-se a flexibilização necessária por uma precariedade crónica. E desenganem-se os que fantasiam com a conquista de uma autogestão no teletrabalho, libertadora do olhar das chefias. A monitorização do trabalho há muito se vem intensificando e ameaça tornar-se cada vez mais invasiva, atrofiando a esfera privada de cada um.»
Afixado por: José Batista d’Ascenção
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