Outro exemplo de um processo fermentativo é a transformação do leite em iogurte, por ação de bactérias láticas. O fundamento da obtenção de iogurte a partir do leite reside na transformação da lactose - o açúcar do leite - em ácido lático (a lactose é previamente desdobrada em galactose mais glicose, sendo a galactose isomerada em glicose, e é com a glicose que se inicia a primeira etapa da fermentação - a glicolise. À glicolise segue-se a redução do ácido pirúvico a ácido lático). A equação geral é a seguinte:
C6H12O6 (glicose) → 2 C3H6O3 (ácido lático) + 2 ATP (energia útil)
Em consequência da produção de ácido, o pH desce e a maior parte das proteínas do leite, com destaque para a caseína, alteram a sua estrutura (desnaturam), coagulando. Ao leite coagulado, com sabor azedo, devido à presença de ácido, chamou-se iogurte.
Como se vê, as pessoas que são intolerantes ao leite, ou melhor, à lactose, podem consumir iogurte, uma vez que, no iogurte, a lactose foi degradada, por fermentação, dando lugar a ácido pirúvico que, por sua vez, é reduzido a ácido lático. A conversão do açúcar do leite em ácido lático pára quando todo o substrato (lactose) tiver sido transformado em produto (ácido lático), ou seja, quando já não houver lactose.
O queijo, se resultar apenas da coagulação do leite, sem transformação da lactose (sem fermentação lática), continua a conter aquele nutriente, e por isso é, tal como o leite, um alimento impróprio para as pessoas com intolerância à lactose.
Em bactérias láticas, a produção do resíduo ácido lático pode conferir-lhes vantagens ecológicas para além da obtenção de energia. De facto, a acidificação que ocorre no meio torna-o desfavorável para uma variedade de outros micróbios que competem com aquelas bactérias, as quais, dessa forma, dispõem dos nutrientes só para si, podendo então aumentar o seu número.
A fermentação lática pode ocorrer nas células musculares humanas, em casos de insuficiência de aporte de oxigénio para a respiração aeróbia. Nesse caso, porque dispõem das enzimas necessárias, essas células podem recorrer àquela via fermentativa para obterem um suplemento de energia - ATP.
No nosso intestino também ocorrem fermentações. De algumas dessas fermentações libertam-se gases – os gases intestinais. Porém, há fermentações como a fermentação lática (na via metabólica que estamos a considerar, sendo que há outros tipos...), que não é predominante no intestino, em que não ocorre produção de qualquer gás. Na conversão de piruvato (ácido pirúvico), composto com 3 carbonos, em lactato (ácido lático), outro composto com 3 carbonos, não há descarboxilação, pelo que é impossível a libertação de CO2. Porém, no intestino humano, como se disse, ocorrem várias fermentações, e não faltam aquelas que originam a produção de substâncias gasosas…
José Batista d’Ascenção